Correio Braziliense, n. 21244, 24/07/2021. Política, p. 5

Procuradoria apura venda de vacinas
24/07/2021



A Procuradoria da República do Distrito Federal abriu um inquérito civil para apurar a suspeita de corrupção envolvendo uma negociação para aquisição de vacinas contra covid-19 pelo Ministério da Saúde. A base da investigação é a acusação do cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que disse que quando tentou negociar a venda de imunizantes ao governo federal, recebeu um pedido de propina de US$ 1 por dose do ex-diretor de Logística da pasta, Roberto Dias, exonerado após o caso vir à tona.

Dominghetti relatou o episódio em depoimento à CPI da Covid, no Senado. O cabo é apontado como vendedor autônomo de vacinas pela empresa americana Davati Medical Supply, que dizia ter 400 milhões de doses da Oxford/Astrazeneca para serem vendidas ao governo federal — apesar de a fabricante ter informado que não negocia com governos por meio de intermediários.

O suposto pedido de propina teria ocorrido em um restaurante de um shopping em Brasília, em 25 de fevereiro. Dominghetti disse que foi apresentado a Roberto pelo coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Departamento de Logística, que também estava no encontro. Segundo o cabo, o ex-diretor de Logística do ministério falou sobre a propina e marcou uma reunião no dia seguinte, na sede da pasta, para que obtivessem uma resposta. Dias nega o pedido de propina e que tenha marcado o encontro no restaurante — justifica que estava no local com um amigo num happy hour e que Dominghetti chegou acompanhado de Blanco.

Em nota, a defesa de Dias afirmou que a abertura de inquérito foi recebida "como uma oportunidade ímpar para esclarecer os fatos, oportunizando a manifestação de todos envolvidos para desmascarar a mentira criada por Luiz Dominghetti".

A suspeita da CPI é de que havia dois grupos dentro do ministério que disputavam a negociação de vacinas: um composto por militares e outro de pessoas indicadas pelo Centrão. No depoimento, Cristiano citou o nome de outros militares que, segundo ele, atuaram na negociação — dentre os quais o ex-secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, e o tenente-coronel da reserva Hélcio Bruno de Almeida.