Correio Braziliense, n. 21243, 23/07/2021. Política, p. 5

Bolsonaro: "Eu sou do Centrão"
Ingrid Soares
Fernando Fernandes
Sarah Teófilo
23/07/2021



Presidente tenta dar pouca importância à dependência do governo em relação ao Centrão e afirma que não tem nada a ver a alcunha pejorativa do grupo. Reconheceu, ainda, que integrou partidos fisiológicos nos tempos de parlamentar

O presidente Jair Bolsonaro tentou minimizar a dependência cada vez maior do governo em relação ao Centrão, sacramentada com a indicação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Ele justificou que a nomenclatura "Centrão" é pejorativa e admitiu fazer parte do bloco quando lembrou sua passagem por vários partidos do bloco parlamentar quando era deputado.

"O Centrão é um nome pejorativo. Eu sou do Centrão. Ficou rotulado Centrão como algo pejorativo, algo danoso à nação. Não tem nada a ver. Eu nasci de lá. A Tereza Cristina é do PFL, atualmente Democratas. O Onyx Lorenzoni também é do Democratas. O Ciro Nogueira, que deve integrar o governo, é do PP", explicou, em entrevista à rádio Banda B, de Curitiba.

Bolsonaro explicou ainda a necessidade de alianças para formar uma base no Congresso. "Eu vou governar com um quinto da Câmara? Não tem como", justificou-se. E mandou um recado àqueles que o criticam pela proximidade com o bloco: "Pessoal, se vocês têm críticas a deputados de centro, não votem mais nesses candidatos por ocasião das eleições do ano que vem. É simples a coisa. Agora, se você vota nessa pessoa no Brasil, eu converso com ela", acrescentou.

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, já ironizou o Centrão, que hoje compõe boa parte da base governista. Em um vídeo da convenção nacional do PSL, em 22 de julho de 2018, no Rio de Janeiro, o general da reserva parodiou um dos sucessos do sambista Bezerra da Silva: "Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão", cantou, substituindo a palavra "ladrão", da letra original, pelo grupo de partidos.

Ainda ontem, Bolsonaro confirmou que Ciro Nogueira aceitou o convite para comandar a Casa Civil, onde é elaborada a articulação política do governo, e assumirá na semana que vem, quando retorna de viagem. O presidente relatou que espera uma melhoria de diálogo com o Congresso e anunciou que Onyx Lorenzoni assumirá o novo Ministério do Emprego e Previdência.

Bolsonaro disse conhecer Ciro desde a época em que também integrou o PP e que é um quadro que interessa ao governo por conta da experiência. "Acho que melhora a interlocução com o parlamento e nós continuamos dentro da normalidade, conduzindo o destino da nação", disse.

Já o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), disse que a ida de Ciro para a Casa Civil não muda em nada para a comissão de inquérito. "Tenho uma boa relação com o Ciro, mas nada que ele possa fazer vai interferir nas investigações dentro da CPI. Nada, nada, nada. Se o objetivo é esse, acho que isso não vai funcionar. Não creio que funcione", explicou.