Correio Braziliense, n. 21242, 22/07/2021. Brasil, p. 7

Sem protocolo, governo força aulas presenciais
Maria Eduarda Cardim
Gabriela Bernardes
22/07/2021



Ministros da Educação e da Saúde querem a retomada do ensino nas escolas, mas não apresentam balizas para que isso seja feito com segurança, no momento em que a variante Delta se dissemina. Prometidas para orientar o retorno, regras ainda estão no papel

Com o avanço lento da vacinação contra a covid-19 no Brasil e da melhora dos índices de casos e mortes vistos nas últimas semanas, o governo federal força o retorno das aulas presenciais em todo o país. Mas a pressão dos ministros da Educação, Milton Ribeiro, e da Saúde, Marcelo Queiroga, nos últimos dias, requer a adoção de vários cuidados, conforme alertam especialistas, sobretudo por causa da disseminação da variante Delta no país. Uma das medidas prometidas pelos ministros para diminuir os riscos para professores, alunos e profissionais de apoio das instituições de ensino é a publicação de um protocolo para orientar estados e municípios no retorno — algo que até hoje não saiu do papel.

Ontem, o ministro da Saúde voltou a dar uma previsão para divulgação deste protocolo. "Acredito que na semana que vem devemos ter uma posição definitiva sobre esse protocolo", disse Queiroga. A promessa de publicação do documento já havia sido feita por ele quando foi anunciada a criação de diretrizes para o retorno dos alunos às salas de aula. E voltou a defender a necessidade da retomada presencial, inclusive sem a vacinação completa dos professores.

"O mundo todo já voltou às aulas sem a necessidade de vacinar professor. Agora, a nossa campanha vai muito bem e 80% dos professores do ensino básico já estão vacinados com uma dose. Então, o que precisamos são protocolos, uso de máscaras, testagem e nós vamos fazer isso", prometeu. Apesar de afirmar que estados e municípios possuem um documento para orientar a retomada, o governo federal quer dar uma direção nacional "para fortalecer e dar mais segurança" a todos.

O médico de Família e Comunidade Fillipe Loures, coordenador do EuSaúde, empresa de gestão de saúde que orienta algumas escolas na retomada do ensino presencial, entende que o país tem um cenário mais adequado para o retorno às aulas, diante do avanço da vacinação (veja arte). Mas ressalta a necessidade de que este protocolo prometido pelo governo federal seja seguido pelas escolas.

"A volta às aulas deve ser feita com muita segurança. Se não tiver um protocolo sério, validado, que vai ser seguido, realmente não dá para voltar. Se a intenção do governo é fazer um protocolo para falar que tem um, isso não vai ter o resultado que se espera. Mais importante do que existir um protocolo, é seguir o protocolo e ter um acompanhamento próximo", alerta.

Particularidades
O diretor de Educação e Tecnologia da Ambra University, Alfredo Freitas, deixa claro que a retomada das aulas presenciais deve ser discutida e avaliada criteriosamente, de acordo com a situação de cada região. "Depende das características da localidade, dos professores e das instituições de ensino", observa, acrescentando que cada etapa de ensino tem sua especificidade. Ele lembra, com base em diversos estudos internacionais, que o recomendado, agora, é a volta às salas dos alunos mais novos. "Há indícios e estudos diversos de que o risco de contaminação, especialmente de crianças por coronavírus, é muito mais baixo do que o risco em adultos", disse.

A analista de sistemas Mônica Almeida, de 35 anos, tem dois filhos no ensino fundamental II em escolas públicas. Para ela, o cenário ainda não é seguro para a retomada, mas reconhece que, para muitas famílias, é necessário. "Acho que a vacinação ainda está muito devagar para ter segurança. Eu mesmo não estou vacinada e meus filhos, apesar de ensinados e aconselhados, são desleixados com a máscara e o álcool gel", observou.