Correio Braziliense, n. 21237, 17/07/2021. Brasil, p. 6

Brasil supera 540 mil mortos pela covid-19
Maria Eduarda Cardim
Fabio Grecchi
17/07/2021



Mesmo com o avanço da vacinação, óbitos e infecções pelo novo coronavírus mostram que o país está longe de domar a pandemia. Para piorar, governo federal, estados e municípios não se entendem sobre a aplicação de vacinas diferentes e a hipótese de oferecer a 3ª dose

O Brasil ultrapassou, ontem, a marca de 540 mil mortos pela covid-19. De acordo com os dados coletados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde, e reproduzidos pelo Ministério da Saúde, já são 540.398 óbitos, sendo 1.456 vidas perdidas nas últimas 24 horas. Apesar de a vacinação avançar e a taxa de infecção vir caindo, conforme reconheceu o mais recente levantamento do Imperial College, de Londres — recuou para 0,88, o que significa que cada 100 pessoas transmitem o novo coronavírus para outras 88, e é a mais baixa desde novembro de 2020 —, o país está longe de controlar a trajetória do micro-organismo. São 19.308.109 pessoas que contraíram a doença e, entre quinta-feira e ontem, 45.591 casos foram registrados.

Uma das razões de a pandamia continuar a apresentar números elevados se explica, também, na desorganização do Ministério da Saúde. Sem uma coordenação desde 7 de julho, quando Francieli Fantinato foi exonerada do cargo a pedido, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) — responsável por coordenar a campanha de vacinação contra a covid-19 — encontra dificuldades para destravar as discussões e assiste estados e municípios anunciarem as próprias regras de vacinação. A atitude tem sido alvo de críticas do ministro Marcelo Queiroga, que ontem voltou a reprovar a ação ao afirmar que decisões tomadas fora do PNI geram "calor" em vez de gerar "luz".

Na falta de uma coordenação geral e de interlocução do governo federal, estados e municípios adotam medidas fora do pactuado no PNI e contrárias à comissão tripartite — que reúne o ministério e as secretarias estaduais e municipais de Saúde. Queiroga criticou a decisão, de algumas unidades da Federação, de incluir adolescentes na campanha de imunização contra a covid-19 e também a intercambialidade de imunizantes em grávidas, ações adotadas por alguns estados, sem o aval do PNI.

Terceira dose
E ontem, sem citar diretamente o Rio de Janeiro, Queiroga criticou o anúncio da intenção de vacinar os idosos com uma dose de reforço. "Não podemos ter municípios criando regras próprias, escolhendo subgrupos diferentes para a vacinação. Agora, um grande município do Brasil já está anunciando a terceira dose. Como anunciar a terceira dose se a gente não avançou ainda na primeira dose em 100% da população brasileira? Isso gera calor em vez de gerar luz", disse, durante discurso em um evento em Campo Grande.

A intenção de fazer o reforço da vacina no grupo de idosos com 60 anos ou mais foi anunciada na última quinta-feira, em uma live do prefeito Eduardo Paes. A ideia, segundo o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, ainda é estudada, mas já foi divulgada uma previsão para que os idosos recebam uma terceira dose do imunizante entre outubro e dezembro. "Essas são discussões iniciais, que precisam ser aprofundadas. Estamos prevendo aqui, organizando nossa logística, mas a gente vai ter de ver alguns fatores", disse o secretário.

Entre os fatores citados, está justamente a avaliação de qual será a recomendação do PNI na época (outubro e dezembro). Segundo Soranz, a discussão sobre doses de reforços nos idosos já ocorre no programa. No entanto, o Ministério da Saúde nunca abordou publicamente a ideia, nem divulgou possíveis datas para a aplicação de uma terceira dose neste grupo.

A antecipação dessa divulgação por parte da Prefeitura do Rio, segundo o secretário de Saúde, é para "tentar dar previsibilidade para as pessoas" e "forçar algumas discussões que são importantes". "Essa é uma discussão que precisa começar a ser debatida. Como a gente está em uma pandemia, atrasos nessas discussões e nesse processo podem gerar danos para a população", ponderou.
Soranz ainda afirmou que a falta de coordenação do PNI traz dificuldades para destravar esses debates que surgem ao longo da campanha de imunização. "Infelizmente, a gente, nesse momento, tem um problema no Ministério da Saúde porque a coordenadora do PNI acabou de ser demitida. Então, a gente ainda tem uma dificuldade de avançar nessas discussões", disse o secretário, ao comentar a ideia de uma dose de reforço.