Correio Braziliense, n. 21229, 09/07/2021. Política, p. 2

Ex-chefe do PNI critica politização da vacina
Sarah Teófilo
Israel Medeiros
09/07/2021



Ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Francieli Fantinato afirmou, ontem, à CPI da Covid, que decidiu deixar o cargo por causa da politização da vacina, principalmente por parte do presidente Jair Bolsonaro. Segundo ela, as declarações do mandatário sobre os imunizantes prejudicaram a campanha no momento em que o PNI precisava de uma orientação única e coerente.
"Espera-se que as pessoas falem em prol da vacinação. Quando temos todas as evidências favoráveis, qualquer pessoa que fale contra vai trazer dúvidas à população. É preciso que haja uma comunicação única", argumentou. "Quando o líder da nação não fala favoravelmente, a minha opinião é de que isso pode trazer prejuízos. Enquanto coordenadora, eu precisava de um direcionamento único."

Outros problemas no enfrentamento à pandemia, conforme Fantinato, foram a falta de campanhas publicitárias que incentivassem a população a se imunizar e o baixo número disponível de doses. "O PNI, estando sob qualquer coordenação, não consegue fazer uma campanha exitosa sem vacinas e sem comunicação, sem uma campanha publicitária efetiva", enfatizou.

De acordo com a depoente, a área técnica do Ministério da Saúde elaborou uma nota recomendando que o governo comprasse entre 140 milhões e 242 milhões de doses da vacina ofertada pelo consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse quantitativo, segundo ela, seria suficiente para tentar um "controle da transmissão" da covid-19. O Executivo, no entanto, teria optado por comprar apenas 42 milhões de unidades, 100 milhões a menos do que o indicado.
A ex-coordenadora revelou que, enquanto o Ministério da Saúde decidia quais grupos receberiam a vacina primeiro, o coronel Elcio Franco, então secretário-executivo da pasta pediu para que a população carcerária fosse retirada da lista de prioritários.

O pedido, segundo Fantinato, teria sido feito em uma reunião na primeira quinzena de dezembro de 2020, antes da publicação da primeira versão do PNI, em 16 de dezembro. O programa teve de definir os grupos prioritários diante da escassez de vacinas.

O plano incluiu, entre outros, as populações vulneráveis, nas quais estão incluídos os detentos. "É uma população que tem uma prevalência maior de doenças infecciosas. As condições presidiárias são muito inadequadas, as medidas não farmacológicas são difíceis de serem executadas", explicou. Ela contou ter negado o pedido de Elcio Franco.

Na sessão, Fantinato deixou a condição de investigada, a pedido do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ele justificou que não havia motivos para mantê-la nessa condição.