Correio Braziliense, n. 21216, 26/06/2021. Brasil, p. 5

Fiocruz: números ainda são altos
Maria Eduarda Cardim
26/06/2021



Um dia após os pesquisadores Jurema Werneck e Pedro Hallal indicarem, durante depoimento na CPI da Covid, que cerca de 400 mil vidas poderiam ter sido salvas se medidas adequadas tivessem sido tomadas no combate ao novo coronavírus, o Boletim do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), reforçou que muitas vidas perdidas para a doença seriam salvas com medidas públicas baseadas em evidências científicas. Um ano e três meses depois da chegada do novo coronavírus ao país, apesar do início da vacinação, o cenário ainda é preocupante, pois a transmissão do vírus permanece em níveis elevados, segundo os pesquisadores da instituição.

"Nas últimas semanas, muitas macrorregiões apresentam taxa de incidência extremamente alta, acima de 10 casos por 100 mil habitantes", indica o documento. Segundo os cientistas, o "Brasil é hoje um dos epicentros da pandemia no mundo em termos de gravidade". A análise leva em conta, também, a taxa de óbitos do país por milhão de habitantes, que hoje é 4,7 vezes maior do que a global. "Se no mundo temos uma taxa de 497 óbitos por milhão de habitantes, no Brasil atinge 2.364 óbitos por milhão de habitantes", aponta o boletim.

Somente ontem, mais 2.001 mortes foram registradas ,de acordo com o balanço do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde. Com isso, a média móvel de mortes ainda continua perto da faixa de 2 mil e, segundo o Conass, a média atingiu, ontem, o patamar de 1.806 mortes.

Parte do documento destaca, ainda, a velocidade com que o país passou a contabilizar 100 mil óbitos desde o início da pandemia. Para alcançar os primeiros 100 mil e 200 mil óbitos, foram necessários intervalos de cinco meses. Depois disso, mais 100 mil mortes foram contabilizadas em dois meses e meio e, em 24 de março, o Brasil atingia a marca de 300 mil vidas perdidas. Para passar de 300 mil para 400 mil mortes, foi preciso pouco mais de um mês.

"Na sequência, em apenas um mês e 23 dias (entre 29 de abril e 19 de junho), foram contabilizados mais 100 mil óbitos, chegando à triste marca de 500 mil. A velocidade de ocorrência de óbitos se mantém com números extremamente altos, o que descreve a situação crítica que o país ainda vive", concluem os especialistas.

Para mudar o cenário, os pesquisadores reforçam a necessidade da adoção de medidas não farmacológicas junto com a aceleração da vacinação. "A comunicação clara, objetiva, confiável e sem contradições entre os governantes é fundamental para manter a confiança da sociedade, sua adesão às orientações e engajamento para reforçar intervenções locais que ajudem-nos a minimizar os impactos da pandemia", indicam.