Correio Braziliense, n. 21215, 25/06/2021. Economia, p. 7

Classe média encolhe na pandemia
25/06/2021



No ano passado, a crise provocada pela pandemia da covid-19 empurrou 4,7 milhões de pessoas da classe média para a vulnerabilidade ou a pobreza na América Latina e no Caribe, conforme estudo do Banco Mundial (Bird) divulgado ontem. Contudo, se não fosse o auxílio emergencial promovido pelo governo brasileiro, esse número seria muito maior, chegando a 12 milhões, de acordo com o levantamento do Bird. A entidade advertiu que o quadro pode piorar neste ano se não houver medidas para conter o aumento da desigualdade.

De acordo com a pesquisa denominada A lenta ascensão e o declínio repentino da classe média na América Latina e no Caribe, sem o programa de auxílio brasileiro, 20 milhões de pessoas ficaram em situação de pobreza em 2020.

O estudo, de 78 páginas, destacou que a classe média latino-americana encolheu mais rapidamente do que cresceu nos últimos anos, mas, em 2020, os percentuais de pobres e vulneráveis passaram a ser predominantes na região. A atual crise global, segundo a instituição, deve resultar em um rápido declínio no tamanho da classe média na maioria dos países, "tornando a América Latina novamente uma região majoritariamente de pessoas vulneráveis e abaixo da linha da pobreza".

Nas últimas duas décadas, o número de pessoas vivendo em situação de pobreza na região caiu quase pela metade. Em 2018, a classe média (com renda per capita diária entre US$ 13 e US$ 70 por dia) ultrapassou o número de pessoas em situação de vulnerabilidade (vivendo com US$ 5,50 a US$ 13) e de pobreza (abaixo da linha de pobreza de US$ 5,50 por dia).

Naquele ano, a classe média correspondia a 37,4% da população da região, e, em 2019, passou para 38,4%. Contudo, em 2020, recuou para 37,3%.

A população em situação de vulnerabilidade aumentou de 37%, em 2019, para 38,5% em 2020. Já as pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza eram 21,8% da população, dado levemente abaixo do total de 2019, de 22,1%.

A América Latina concentra 8% da população global, mas registra 32% das mortes provocadas pela covid-19. O Produto Interno Bruto (PIB) regional encolheu 6,5% no ano passado e, segundo o Bird, a recuperação que está ocorrendo "não será suficiente para que o PIB regional retorne ao patamar de 2019". Para garantir a recuperação, a instituição destacou que será fundamental garantir o amplo acesso a vacinas e fortalecer os sistemas de saúde em toda a região.

Os dados mostram, ainda, que 54,4% dos trabalhadores latino-americanos estão na informalidade e que 9 em cada 10 das pessoas que vivem na pobreza trabalham no setor informal.

"Aqueles que estavam em pior situação no início provavelmente serão os mais afetados, levando ao aumento na desigualdade de renda em uma região já muito desigual", disse Ximena Del Carpio, gerente da Prática Global de Pobreza e Equidade do Banco Mundial. "O acesso a serviços básicos, como eletricidade, água tratada, saneamento e até mesmo a internet, se tornou ainda mais essencial em situações de lockdown", acrescentou. (RH)

Retrocesso

Evolução da pobreza na América Latina
(Dados em %)

Faixa de renda (em US$/dia) 2019 2020
Classe média (13-70) 38,4 37,3
Vulneráveis (5,5-13,0) 37,0 38,5
Pobres (até 5,5) 22,1 21,8

Fonte: Banco Mundial