Correio Braziliense, n. 21197, 07/06/2021. Cidades, p. 18

Frio e seca elevam chance de infecções
Jéssica Moura
07/06/2021



Sem chuvas para limpar a atmosfera, partículas virais como as do Sars-CoV-2 permanecem mais tempo em suspensão no ar

No inverno, a queda nas temperaturas e o predomínio da seca na região Centro-Oeste são fatores ambientais que favorecem a transmissão de vírus respiratórios como o Sars-CoV-2, causador da covid-19. Devido a isso — e ao desrespeito às medidas de segurança sanitária —, especialistas preveem um recrudescimento dos casos nas próximas semanas. "Essas doenças de transmissão aérea tendem a aumentar quando as pessoas ficam mais confinadas. Isso facilita o contágio", destaca o pneumologista Ricardo Melo.

Apesar disso, ainda não há estudos científicos conclusivos que relacionem o aumento na transmissão da covid-19 às condições meteorológicas. No ano passado, a emergência da crise sanitária no Brasil coincidiu com a transição do outono para o inverno. Entre maio e agosto, as infecções aceleraram e atingiram picos de mais de 3,1 mil registros em um dia. No entanto, em 2021, a primeira alta ocorreu em março, durante o verão. O Distrito Federal teve mais de 2,2 mil novos casos confirmados em 24 horas e bateu recorde, com 88 mortes registradas em 24 de março, o que superou o verificado durante a onda anterior.

O pneumologista Ricardo Melo alerta para algumas consequências do clima. "A seca proporciona prejuízos para as defesas, deixa as mucosas do corpo ressecadas e com mais chance de (apresentarem) ferimentos, que podem ser porta de entrada para agentes infecciosos como vírus", comenta. Além disso, no período sem chuvas e com baixa umidade, a qualidade do ar piora, devido às partículas de poluição que ficam suspensas. "A chuva tem potencial de lavar a atmosfera. Quando não há precipitação por muitos dias seguidos, elas (as partículas) se acumulam no ar", explica o geógrafo Rafael Franca, da Universidade de Brasília (UnB).

O microbiologista Fernando Melo, que estuda a genética do coronavírus, alerta para o fato de que vírus conseguem permanecer por mais tempo no ar, o que aumenta os riscos de infecção, principalmente em ambientes internos. Por isso, ele chama a atenção para a possibilidade de piora da pandemia entre julho e agosto, sobretudo se o ritmo da vacinação não acelerar. "As pessoas ficam mais em lugares fechados e sem ventilação por causa do frio. Portanto, o risco de contrair a covid-19 aumenta (em locais) com ventilação inadequada e aglomeração", destaca.

A circulação de novas variantes é outro fator que se soma aos riscos gerados por comportamentos inadequados da população e pela falta de medidas mais restritivas, segundo o biólogo. Com esse cenário, o clima não se tornaria o principal agravante. "Para a covid-19, não podemos dizer que a sazonalidade realmente existe, pois o número de casos e as mortes nunca ficaram em patamares realmente baixos. No futuro, é possível que a doença tenha uma sazonalidade parecida com a de outras doenças respiratórias virais", avalia Fernando. Em países europeus, por exemplo, a primeira onda começou em abril de 2020, durante a primavera. A segunda só apareceu no fim de outubro, na fase de transição do outono para o inverno no hemisfério norte. Depois de controlados os casos, a terceira onda teve início em março último, também no inverno.

Enquanto a proporção da população imunizada contra o novo coronavírus não aumenta no país, outra campanha de vacinação preocupa especialistas em saúde. "A cobertura vacinal da gripe está muito baixa", observa o médico Ricardo Melo. "Isso preocupa bastante, porque são doenças que se confundem — ao menos no início (dos sintomas)", completa.
Mulher é assassinada pelo ex

Uma mulher de 35 anos morreu vítima de feminicídio, na noite de ontem, em Planaltina. Leidenaura Moreira Rosa da Silva (foto) foi assassinada com uma facada no pescoço, no bairro Estância Mestre D'Armas. O autor do crime, Junio Valdemir, 31, ex-companheiro dela, foi preso em flagrante e levado à 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina).

A Justiça havia concedido medidas restritivas em favor de Leidenaura, devido a registros de agressões anteriores por parte do acusado. Os dois haviam se separado, mas Junio costumava frequentar a casa da vítima. Socorrida ao Hospital Regional de Planaltina (HRPl) depois do ataque, que aconteceu por volta das 14h, Leidenaura não resistiu aos ferimentos e teve uma parada cardíaca pouco depois das 20h.

Inicialmente, o caso foi registrado na 16ª DP como tentativa de feminicídio. No entanto, com a morte da vítima, a polícia deve alterar o registro da ocorrência para tipificar o assassinato por razão de gênero. Leidenaura deixa seis filhos. Cinco deles eram órfãos de pai — morto há oito anos em um acidente de carro no Lago Sul.