Correio Braziliense, n. 21196, 06/06/2021. Brasil, p. 6

Um planeta mais limpo e livre do uso de plástico
Fernanda Strickland
Gabriela Bernardes
Gabriela Chabalgoity
06/06/2021



Contaminação cada vez maior dos solos, rios e oceanos com polímero põe em xeque o uso desse tipo de material e exige políticas públicas para reduzir a poluição dos biomas. Além dos danos à natureza e aos animais, produto pode intoxicar seres humanos

Você já se perguntou o que acontece com todo o plástico produzido no mundo, as implicações para a saúde humana, a saúde dos animais e o meio ambiente? Os produtos petroquímicos começaram a aparecer no nosso dia a dia há menos de 100 anos. Do combustível fóssil são feitos inúmeros luxos da vida moderna, desde embalagens, aparelhos do dia a dia e até roupas. Os petroquímicos e os metais pesados, porém, são extremamente tóxicos e a ingestão dessas substâncias pode causar doenças como câncer, má formação dos órgãos sexuais, diabetes e problemas neurológicos.

Pesquisa realizada pela revista Environmental Science and Technology, publicada pela Sociedade Americana de Química, mostra que, desde 1960, a produção mundial de plásticos aumentou quase 10% anualmente. "Com o tempo, o plástico vai se degradando, lixiviando toxinas ambientais e pequenas partículas de 1 a 5 milímetros chamadas microplásticos. Cerca de 39 mil a 52 mil pedaços de microplásticos podem estar na nossa dieta anual. Se incluirmos os pequenos pedaços que inalamos, esse número pode subir para 74 mil", afirma a pesquisa.

Ainda segundo o trabalho, alguns efeitos no ecossistema, como animais presos ou se enforcando com plásticos são mais facilmente visíveis hoje em dia. Isso porque cerca de 8 milhões de toneladas de plásticos são despejados no oceano anualmente. Menos conhecida é a estimativa de que o ser humano ingere, em média, o equivalente a um cartão de crédito de plástico por semana, ou seja, coloca dentro do organismo cinco gramas de plástico a cada sete dias.

Proteção

André Gallego Augusto, engenheiro de produção, sócio fundador da Galícia Educação, avalia que a preocupação com a contaminação do meio ambiente já entrou para a agenda global. "O mundo e as grandes empresas têm se preocupado cada vez mais com o meio ambiente, a proteção de biomas, a redução de emissão de CO² e alternativas de matéria-prima para minimização dos impactos. Dessa forma, estão ocorrendo vários debates para esclarecer e conscientizar as pessoas sobre a importância do assunto", afirma.

O engenheiro explica que o plástico é um polímero derivado do petróleo. "Portanto, sua dissolução com o tempo se torna imperceptível e acaba se transformando em microplásticos, que são altamente poluentes. Dez por cento de todo plástico utilizado é reciclado, o restante é descartado em aterros ou irregularmente no meio ambiente. O plástico que é lançado no meio ambiente, acaba penetrando no solo por meio da água de chuva, direcionado aos rios, e, finalmente, aos oceanos, onde já existem verdadeiras ilhas de lixo desse material", afirma.

Segundo Gallego, as partículas de microplásticos se misturam na água e acabam sendo ingeridas por peixes e animais marinhos em geral. Além disso, podem contaminar os lençóis freáticos e acabar sendo ingeridas por humanos.

Para reduzir as consequências negativas, André Gallego explica que, primeiramente, é preciso mudar hábitos de consumo de objetos plásticos de uso único, como copos, talheres, canudinhos, garrafas de água e refrigerantes, sacolas e embalagens em geral. "Devemos adotar alternativas viáveis, como ter nossa própria garrafinha de água, canudinho de metal, sacolas reutilizáveis, comprar mais alimentos a granel, sem embalagem. São ações que ajudam a diminuir o consumo de plástico. Com isso, diminuímos a geração de lixo no planeta, a emissão de gases de efeito estufa e a contaminação das águas."

O engenheiro de produção diz que todo desastre ambiental tem um impacto muito expressivo, muitas vezes irreversível. "A natureza sempre se mostrou capaz de se reinventar, transformar e se adequar ao novo ambiente. Porém, isso pode levar anos ou décadas. O ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) demonstra a preocupação das empresas em se posicionar em relação a esses temas. Esse é o único caminho, se as empresas quiserem crescer e prosperar em suas áreas de negócio."

Frases

"A dissolução (do plástico) com o tempo se torna imperceptível e acaba se transformando em microplásticos, que são altamente poluentes"

André Gallego Augusto, engenheiro de produção

"Cerca de 39 a 52 mil pedaços de microplásticos podem estar na nossa dieta anual. Se incluirmos os pequenos pedaços que inalamos esse número pode subir para 74 mil"

Trecho da conclusão da pesquisa da revista Environmental Science and Technology