Correio Braziliense, n. 21193, 03/06/2021. Brasil, p. 6

Menos 10 milhões de doses no 2º semestre
Fernanda Strickland
03/06/2021



A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reduziu a previsão de entrega de vacinas contra a covid-19 de 110 milhões para 100 milhões de doses para o segundo semestre do ano. Antes, a estimativa era que o total fosse produzido com ingrediente farmacêutico ativo (IFA) nacional, porém a instituição recalculou a projeção: serão entregues 50 milhões de imunizantes com produção 100% nacional e mais 50 milhões com insumo importado, que está sendo negociado. 

Segundo Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, a projeção de 110 milhões de doses 100% nacional era uma estimativa feita a partir de dados disponíveis antes mesmo de a vacina desenvolvida pela Oxford e pela AstraZeneca ter sido aprovada. “Houve problemas em vários sítios de produção, por ser uma tecnologia nova. São coisas que só no processo de desenvolvimento é possível saber” explicou. 

Maurício Zuma, diretor do Bio-Manguinhos, assegurou que estão mantidos as 100 milhões de doses do contrato inicial. “Sempre trabalhamos com diversas estratégias, com diversas alternativas, para manter as entregas ao Ministério da Saúde. Estamos trabalhando com um processo desconhecido, vamos tendo informações ao longo do tempo. Nesse momento, a gente está prevendo entregar com o IFA nacional algo em torno de 50 milhões de doses e outros 50 milhões de doses virão de IFA importado”, afirmou o diretor de Bio-Manguinhos.

UTIs repletas

A redução de 10 milhões de doses anunciada pela Fiocruz vem no momento em que a demanda por leitos de unidade de terapia intensiva para tratamento da covid-19 chegou a 100% em três capitais. Curitiba, Campo Grande e Aracaju enfrentam uma situação de ocupação de leitos igual ou superior a 100%, além de filas de pacientes internados com o novo coronavírus à espera de uma vaga na UTI.

Há capitais em cenário crítico em todas as cinco regiões do país. Em 10 delas, a ocupação de leitos está em aproximadamente em 95% das vagas ocupadas. Na maior parte dos casos, os leitos que se tornam disponíveis são os que vagaram recentemente e que estão sendo preparados para receber novos pacientes.

 Para Gonzalo Vecina, médico sanitarista e professor da Universidade de São Paulo (USP), a retomada dos aumentos de casos representam um “recrudescimento” do que acontece desde que crise sanitária começou, pois não houve uma queda importante depois das chamadas primeira e segunda ondas: “Essas três capitais — Curitiba, Campo Grande e Aracaju — são apenas exemplos, mas no interior do de São Paulo também estamos com a situação dramática em muitas cidades médias e grandes. Estamos vivendo um indício de terceira onda”, alertou.