O Estado de São Paulo, n. 46531, 11/03/2021. Metrópole, p.A17

 

 

 

 

 

Vamos pra cima do vírus!

 

SERGIO CIMERMAN

 

A pandemia tem caminhado para números assombrosos no mundo todo e, neste momento, recaem todas as atenções sobre nós, brasileiros. Vivemos um número de óbitos diários que já ultrapassa agora 2 mil por dia, e aumentando de modo exponencial.

Março e abril serão meses duros no controle da pandemia. Explicação plausível recaindo para a circulação das variantes, sobretudo a P.1, de Manaus, mais transmissível, mas não necessariamente mais letal. O tempo vai nos dar esta resposta. O que temos observado com certa frequência é um maior contingente de jovens sendo internados; com maior duração no tempo de internamento, sobretudo, nas UTIS.

Aqui, o grande problema: o estrangulamento do serviço público e privado que leva ao esgotamento da capacidade. Em alguns locais vivemos a ‘escolha de Sofia’. Quem faz uso de respirador ou não pela falta de leitos?

A abertura de novos espaços para funcionarem como UTI é bem-vinda, mas devemos refletir que podem faltar profissionais capacitados para a função. Certo ou errado, estamos em uma guerra e jogamos com todas as fichas de que dispomos.

Chega de mimimi!!! Vamos para cima do vírus e não zombar dele. Para isso, precisamos intensificar o processo de vacinação. Estamos em passo de tartaruga quando comparados a outros países. Já vimos que ninguém virou jacaré. A vacinação é segura e eficaz – mas ainda não alcançamos 5% da população imunizada. A demora da matéria-prima a chegar ao solo tem contribuído negativamente.

Com segurança, posso afirmar: se tivéssemos as vacinas prontas por aqui, já teríamos imunizado muito mais, pela expertise do Programa Nacional de Imunização. Se não fosse tanto “mimimi”, já poderíamos ter outras plataformas vacinais à disposição e definir em cada local a melhor opção.

Triste constatação: não a temos. Creio estarmos longe de isso ocorrer, apesar de informações sobre contratos com todas as farmacêuticas. Quando será? De que modo? Já teremos mais variantes? Serão efetivas?

Alguns testes já estão disponíveis no mercado, como a pesquisa da Imunoglobulina anti-s, o anti-rbd e a dosagem dos anticorpos neutralizantes. Ainda não é consenso que esses testes tenham aplicabilidade clínica e possam de fato definir se o indivíduo está imune ou não. Há muito debate, não sabemos o custo financeiro final nem por quanto tempo a vacina irá configurar proteção. Muitas incertezas.

“Chega de mimimi” também no campo farmacológico. Insistem ainda em dizer que a ivermectina é a salvação.

Não é. Mas é preciso dizer aqui: já passamos por tantas outras e a ciência venceu. Vamos vencer de novo. Artigo recente do Journal of the American Medical Association diz não existir benefício clínico, colocando uma pá de cal para este fármaco. E o próprio detentor da patente há meses vem afirmando não ser ele efetivo para covid-19.

Estes dias soubemos da visita da comitiva brasileira a Israel. Projetos futuros no campo médico. Será efetivo o spray nasal? O que posso dizer é que o número avaliado de casos é muito baixo. Em termos de avanços, nestes últimos dia o Instituto Nacional de Saúde americano (NIH) recomendou o uso do tocilizumabe (imunobiológico) associado a corticoide (dexametasona) em certos pacientes internados em UTI. Esquema terapêutico apenas em sistema de alta gravidade. Caminhamos ainda devagar. Muito aprendizado em todas as situações clínicas. Chega de “mimimi”!!!