O Estado de São Paulo, n. 46529, 09/03/2021. Economia, p.B8

 

 

 

Governo indica seis novos nomes para representa-lo no conselho da Petrobrás

 

Petróleo. Dos indicados, três são militares, entre eles o general Joaquim Silva e Luna, escolhido por Bolsonaro para ser o presidente da estatal no lugar de Roberto Castello Branco; em outro movimento, acionistas minoritários tentam ampliar sua participação no colegiado

 

Denise Luna

Fernanda Nunes/ RIO 

 

Uma semana depois que quatro membros do Conselho de Administração da Petrobrás entregaram seus cargos, o governo federal divulgou ontem uma lista de nomes indicados para representá-lo no comando da estatal. A indicação contempla seis das oito vagas que a União tem direito por ser acionista majoritária. O novo time será composto por três militares, entre eles o general Joaquim Silva e Luna, que deve ocupar também a presidência da petrolífera no lugar de Roberto Castello Branco.

As outras três indicações são de dois ex-funcionários Petrobrás com passagem pela iniciativa privada (Márcio Andrade Weber e Murilo Marroquim de Souza) e de uma executiva, Sonia Julia Sulzbeck Villalobos, que já atuou no conselho da estatal. O governo poderá ainda ocupar mais dois lugares. Os possíveis nomes, no entanto, não foram divulgados.

Em entrevista ao Estadão /Broadcast, Sonia sinalizou a intenção de defender a continuidade da Política de Paridade de Importação (PPI) adotada na gestão de Castello Branco.

Pelo PPI, os preços dos derivados de petróleo acompanham as variações da cotação do petróleo no mercado internacional e também do câmbio. Com isso, à medida que a commodity ganha força nas principais Bolsas globais de negociação, os preços dos combustíveis sobem no Brasil. Apenas neste ano, a gasolina ficou 54% mais cara nas refinarias da Petrobrás e o óleo diesel, 42% .

“O primeiro desafio, a questão dos preços do petróleo, isso infelizmente só o tempo vai mostrar. Não há maneira de voltar a ganhar credibilidade a não ser num dia após outro, numa semana após a outra, em um mês após o outro, quando o mercado ficará mais confortável de que a paridade internacional está sendo respeitada. Não tem muito o que fazer”, afirmou ela.

As desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro e Castello Branco se tornaram públicas exatamente por conta do PPI, após o anúncio do quarto reajuste dos combustíveis em 2021. Bolsonaro demitiu o executivo pelas redes sociais, no dia 19 do mês passado, e, desde então, os preços da gasolina e do diesel já foram revistos mais duas vezes. O episódio foi visto no mercado como interferência do governo na Petrobrás e levou a empresa a perder valor na Bolsa de Valores.

Professora do Insper e atual membro dos conselhos da Telefônica Brasil e da Latam, Sonia participou do colegiado da Petrobrás no período de maio de 2018 a julho de 2020. Há mais de 30 anos ela atua no mercado acionário.

Além dela, o governo vai contar com dois militares que já tinham assento no conselho da petrolífera e, agora, vão ser reconduzidos: o almirante da Marinha Eduardo Bacellar Ferreira Leal, presidente do colegiado, e o engenheiro e oficial da reserva da Marinha Ruy Flaks Schneider.

Analistas receberam bem as indicações. “Mesmo a Sonia Julia, que não é do setor de petróleo, atua ativamente em outros conselhos de companhias. São nomes técnicos e pró-mercado. Isso é muito importante, porque o conselho toma decisões-chave, como a venda das refinarias”, avaliou Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.

O analista de ativos mobiliários do Bradesco BBI Vicente Falanga classificou as indicações como “tecnicamente sólidas”. “Temos de esperar e ver como essa nova gestão vai interagir com as mensagens vindas do governo federal”, afirmou Falanga, em relatório assinado junto com Ricardo França, analista de investimentos da Ágora.

 

Minoritários. Acionistas minoritários da petroleira estão se organizando para conseguir uma cadeira a mais no colegiado – hoje o grupo tem três representantes –, apurou o Estadão. A ideia seria aproveitar o momento de troca do grupo, ocasionada pela renúncia dos conselheiros indicados pelo governo, para tentar ganhar força dentro do colegiado.

O governo, por meio dos ministérios de Minas e Energia e de Economia, precisou correr para formar o grupo com seus indicados, visto que era preciso tornar os nomes públicos com um prazo de ao menos 30 dias antes da assembleia-geral dos acionistas que deliberará sobre o tema, e que está prevista para o dia 16 de abril. / COLABORARAM ERNANI FAGUNDES, WAGNER GOMES e FERNANDA GUIMARÃES

 

 

 

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Empresa anuncia sexto reajuste de combustíveis do ano

 

 

 

Denise Luna

Fernanda Nunes/ RIO

 

A Petrobrás anunciou ontem mais um reajuste de combustíveis em suas refinarias, o sexto no ano. A partir de hoje, a gasolina vai ficar 9,2% mais cara e o óleo diesel, 5,5%.

Com mais esse aumento, as altas acumuladas no ano são de 54% e 42%, respectivamente, segundo cálculo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

O encarecimento dos combustíveis da Petrobrás levou os presidentes da empresa, Roberto Castello Branco, e da República, Jair Bolsonaro, a entrarem numa rota de colisão no último dia 19. Após o anúncio do quarto aumento do diesel no ano, Bolsonaro demitiu o executivo pelas redes sociais. Desde então, mais dois reajustes foram anunciados pela estatal, ainda sob a gestão de Castello Branco.

O litro da gasolina nas refinarias, a partir de hoje passa a ser de R$ 2,84, e o do diesel, R$ 2,86. Ao reajustar os preços, a Petrobrás se alinha às cotações do petróleo no mercado internacional, que deram uma guinada na última semana, após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) anunciar cortes na produção.

Com menos commodity disponível, a tendência, portanto, é de valorização. Por isso, o valor do barril nos contratos negociados em Bolsa para entrega em meses seguintes não param de subir. No ano, o óleo do tipo Brent, negociado em Londres, avançou 33% e, ontem foi vendido a US$ 68. Em 2020, nos piores momentos da crise causada pela pandemia, chegou a custar menos de US$ 30.

A política de Preços de Paridade de Importação (PPI), adotada pela Petrobrás em 2016, prevê reajustes no Brasil à medida que a cotação sobe no mercado internacional. Ao comunicar novo aumento a empresa reafirma o argumento de que precisa reajustar para acompanhar o mercado global e garantir a presença de outros fornecedores no mercado brasileiro.

A estatal pretende vender oito refinarias e concentrar sua atuação na Região Sudeste do País. Mas, para isso, precisa que outros investidores ocupem o espaço que pretende abandonar.

Se o PPI continuar sendo perseguido, é possível que nova alta ainda venha pela frente. O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, diz que, mesmo com esses aumentos, os preços no Brasil ainda estão inferiores aos do mercado internacional.

A visão do coordenador do Ineep, Rodrigo Leão, no entanto, é de que a Petrobrás tem acelerado radicalmente o reajuste dos preços dos derivados.