O Estado de São Paulo, n. 46523, 03/03/2021. Metrópole, p. A18

Em novo recorde, País registra 1.726 mortes em 24h
Andreza Galdeano
Roberta Jansen
03/03/2021



Vinte capitais têm UTIS com lotação acima de 80%, diz Fiocruz; cientistas defendem aumento das restrições para conter vírus

O Brasil registrou 1.726 mortes ontem, o número mais alto em 24 horas desde o início da pandemia, segundo o consórcio de veículos de imprensa. O País tem registrado sucessivos recordes de óbitos, em um momento em que 18 Estados e o Distrito Federal têm mais de 80% da ocupação dos leitos, segundo a Fiocruz. Também preocupam a circulação de uma variante mais contagiosa do vírus, a de Manaus, e a vacinação ainda a passos lentos.

Segundo o site Worldometers, que acompanha a evolução de casos e óbitos pelo mundo, o Brasil ficou atrás só dos EUA (1.813, até 20 horas) em mortes no último dia.

"Pela primeira vez desde o início da pandemia, verifica-se em todo o País o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos e de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), a alta positividade de testes e a sobrecarga dos hospitais", aponta o boletim do Observatório Fiocruz Covid-19.

O boletim da Fiocruz prega a adoção ampla e imediata de medidas mais drásticas de restrição da circulação para conter o vírus. Pelo País, governadores e prefeitos têm adotado medidas de restrição e até o lockdown para tentar reduzir o contágio.

No boletim do Observatório de fevereiro, 12 Estados apresentavam a ocupação de UTIS para covid acima dos 80%. Após uma semana, o número subiu para 19. Os porcentuais mais elevados estão em Santa Catarina (99%), Goiás (95%), Amazonas (92%) e Paraná (92%). Na rede catarinense, a situação é tão grave que pacientes morrem na fila de espera. O Sudeste ainda mantém porcentuais abaixo de 80%, mas a situação de diversas capitais é igualmente preocupante.

Entre as 27 capitais, há 20 com taxas de ocupação de leitos de UTI covid acima de 80%: Porto Velho (100%), Rio Branco (93%), Manaus (92%), Boa Vista (82%), Belém (84%), Palmas (85%), São Luís (91%), Teresina (94%), Fortaleza (92%), Natal (94%), João Pessoa (87%), Salvador (83%), Rio de Janeiro (88%), Curitiba (95%), Florianópolis (98%), Porto Alegre (80%), Campo Grande (93%), Cuiabá (85%), Goiânia (95%) e Brasília (91%). Em São Paulo a taxa é de 76%.

Segundo a análise do boletim, o "cenário alarmante" representa apenas uma parte pequena do problema. "Por trás deles estão dificuldades de resposta de outros níveis do sistema de saúde à pandemia, mortes de pacientes por falta de acesso a cuidados de alta complexidade requeridos, a redução de atendimentos hospitalares por outras demandas, possível perda de qualidade na assistência e uma carga imensa sobre os profissionais de saúde."

Taxa de transmissão. Números divulgados também ontem pelo Imperial College confirmam que a taxa de transmissão (Rt) da covid no Brasil aumentou em relação às duas últimas semanas. A Rt passou de 1,02 e 1,03 para 1,13 (podendo variar entre 1,10 e 1,15). Isso significa dizer que 100 pessoas infectadas contaminam outras 113.

A taxa deve estar abaixo de 1,0 para que a pandemia seja considerada controlada. Desde dezembro, o País apresenta Rt acima de 1,0, indicando que a doença está fora de controle. Conforme estimativas da universidade britânica, o Brasil deve registrar nesta semana até 9,5 mil mortes.

As maiores taxas de transmissão esta semana foram registradas no Iraque (1,35), Palestina (1,26) e Bulgária (1,24).