O Globo, n. 32052, 09/05/2021. País, p.8

 

 

Re­nan diz que co­mis­são po­de­rá res­pon­sa­bi­li­zar Bol­so­na­ro

 

 

 

Relator do colegiado afirma que é contra convocar filhos do presidente

 

NATÁLIA PORTINARI, JULIA LINDNER, ANDRÉ DE SOUZA E DIMITRIUS DANTAS

opais@oglobo.com.br

 

O relator da COVID CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse ontem que se a comissão encontrar evidências de que a postura do presidente Jair Bolsonaro contribuiu para o aumento do número de mortes na pandemia, ele será responsabilizado. O parlamentar, por outro lado, se manifestou contra a convocação dos filhos do presidente para prestarem depoimento, argumentando que o Colegiado não é uma iniciativa para chegar “pessoalmente” a Bolsonaro.

- O governo minimizou a pandemia, entendeu que não era letal, minimizou o papel da vacina, fechou as portas aos produtores de vacinas (...) Em nenhum outro lugar o chefe de estado ou de governo falou publicamente sobre esses absurdos para sua população. Espero que o presidente da República não tenha responsabilidade pelo agravamento do número de mortos no Brasil. Espero que o ICC não chegue tão longe. Mas se o TPI vier, não tenho dúvidas de que ele será responsabilizado, sim.

Renan defendeu a intimação do ministro da Justiça, Anderson Torres, que disse que vai solicitar à Polícia Federal (PF) informações sobre desvio de recursos federais enviados a estados e municípios. O senador, porém, se pronunciou contra a possibilidade de convocar os filhos do presidente, como o vereador Carlos Bolsonaro (republicano).

A partir de terça-feira, na segunda semana de depoimentos, os senadores buscarão novas fontes de informação para averiguar como ações do governo e do Bolsonaro, contrárias às recomendações dos cientistas, levaram ao agravamento da pandemia no país. O investimento em medicamentos ineficazes, por exemplo, tem sido um dos principais tópicos discutidos até agora, e o ICC está procurando novas maneiras de fazer avançar o debate. O depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, levantou a questão de por que a pasta não fez antes uma revisão das pesquisas científicas para estabelecer se a cloroquina e outros medicamentos poderiam ser usados ​​contra a Covid.

Questionado várias vezes, Queiroga argumentou que cabe à Comissão Nacional para a Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) revisar as pesquisas sobre o medicamento para estabelecer se ele é mesmo ineficaz no combate à Covid-19. Segundo ele, esse estudo está em andamento. A Organização Mundial da Saúde (que) já recomendou o abandono da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao vírus.

Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, questionou por que esse estudo da Conitec não foi solicitado antes da gestão da Queiroga. Após a audiência, foi aprovado um pedido de informação à Conitec sobre “Pedidos de Compra e Produção de Cloroquina e Outros Medicamentos para o Tratamento de Covid-19”, de autoria de Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Solicitou também o parecer de O Advogado-Geral da União (AGU) sobre a aquisição de cloroquina ou hidroxicloroquina.

Para o senador, o ICC já ajudou a demonstrar que o presidente agiu contra as recomendações dos cientistas.

- É a realização de informações que ficaram soltas. (Os depoimentos) mostram que ministros técnicos tentaram orientar o governo na direção do consenso científico mundial e o presidente não aceitou.

"MINISTÉRIO PARALELO”

Em outra frente, os senadores tentam mostrar que o Bolsonaro teve uma fonte paralela de assessoria sobre a pandemia, sem embasamento científico. Para isso, pretendem convocar o deputado Osmar Terra (MDB-RS), visitante assíduo do Palácio do Planalto durante a crise sanitária. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse à comissão que muitas das ações do presidente não foram pautadas nas diretrizes da pasta.

Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Rogério Carvalho (PT-SE) pediram aos dirigentes dos laboratórios do Exército, da Marinha e da aeronáutica que investigassem o possível aumento da produção de cloroquina. O colegiado também receberá informações sobre o estoque do medicamento e sobre a produção da Fiocruz.