O Globo, n. 32052, 09/05/2021. País, p.8

 

 

No al­vo da CPI, de­sin­for­ma­ção so­bre Covid-19 se es­pa­lha

 

 

 

Ao menos 202 vídeos no YouTube recomendam remédios sem eficácia, apesar de nova regra da plataforma

 

MARLEN COUTO, CAMILA ZARUR E AMANDA SCATOLINI*

opais@oglobo.com.br

 

Depois que o YouTube revisou suas regras sobre conteúdo que defende o uso de drogas sem eficácia contra a Covid-19, vídeos com recomendações de cloroquina, ivermectina ou pregando “tratamento precoce” contra o vírus permaneceram disponíveis na plataforma. Pesquisa da GLOBO, em parceria com a empresa de análise de dados Novelo Data, identificou pelo menos 202 postagens no ar com desinformação sobre o tema. Ao todo, somam mais de 20 milhões de visualizações e foram veiculados por canais de políticos, como o presidente Jair Bolsonaro, órgãos governamentais, como Ministério da Saúde, influenciadores e até médicos.

Em abril, a you Tube anunciou uma atualização de suas regras e passou a retirar vídeos com recomendações de cloroquina e ivermectina para o tratamento da doença, além de denúncias de que existe um método de prevenção contra o novo coronavírus. Segundo o YouTube, apoliticaéap licada para vídeos que já estavam no ar, retroativamente.

Após a mudança de diretriz, a plataforma retirou cinco publicações do canal do presidente Jair Bolsonaro, mas o perfil não só tem outras publicações antigas no ar, nas quais o presidente prega o uso de medicamentos, como o Bolsonaro postou um novo vídeo no YouTube em a mesma linha. No live semanal da última quinta-feira, disponível na plataforma, o presidente comenta que fez tratamento com cloroquina e que usou ivermectina recentemente. Ele também aponta que vários médicos defendem esses tratamentos.

—Eu nunca vi ninguém morrer de hidroxicloroquina - diz Bolsonaro.

Para PURIFICAÇÃO NO CPI

As constantes declarações do presidente em defesa de medicamentos sem eficácia contra o coronavírus são esclarecidas por CP Ida Covid no dique do sonar naldebol O, também foram identificados pelo Globo dois outros vídeos que ferem as diretrizes do YouTube. Em um deles, publicado em setembro do ano passado, o médico Henrique Prata, diretor do Hospital de amor de Barretos, recomenda a cloroquina para o tratamento do covid-19. Procurado, o Plateau Palace não se manifestou.

A parlamentar bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) é outro nome da política que compartilha remédios de propagação de vídeo como a cloroquina e a ivermectina - o mesmo é feito pelos colegas de partido C ar losJordy (RJ) e Coronel Tadeu (SP). Procurado, Zambelli disse compartilhar o mesmo pensamento do Bolsonaro. O Coronel Tadeu e Carlos Jordy não falaram.

O canal do Ministério da Saúde, por sua vez, tem como tema os menos dois vídeos no ar, publicados no ano passado, como argumento que evita o agravamento da Covid-19. Não há menção a medicamentos específicos. Em uma delas, o ex-ministro Eduardo Pazuello defende que o ilei roquefor trabalhe para “receber medicação” e que o tratamento evite agravos, como a necessidade de UTI. O vídeo da pasta que recomenda o “tratamento precoce” foi compartilhado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

Em nota, a pasta, agora comandada por Marcelo Queiroga, informa que o conteúdo dos vídeos orienta que, aos primeiros sinais do Covid-19, os pacientes procurem atendimento médico. “A medida é fundamental para prevenir casos graves da doença. Em relação a ou mais medicamentos, cabe ao profissional de saúde prescrever o tratamento adequado para cada paciente”, acrescentou. Em diversos momentos, o Ministério da Saúde, sob o comando de Pazuello, recomendou o tratamento precoce dos pacientes com cloroquina e outros medicamentos. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que apenas compartilhou o vídeo e negou que peça desculpas ao tratamento precoce.

EPidemiologista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Guilherme Werneck ressalta que não há estudos que apoiem o uso de medicamentos como cloroquina ou ivermectina contra Covid-19. Pelo contrário, os resultados mostram que não são eficazes:

- Não há nada que possa ser considerado um tratamento precoce. Além disso, a recomendação de medicamentos é perigosa: eles podem ter efeitos colaterais em algumas pessoas.

Nos vídeos sobre ivermectina, chama-se a atenção os casos em que os médicos recomendam a posologia que deve ser utilizada, superior à descrita na bula do medicamento.

- Resolvi dar uma ajuda, diante dessa pandemia, e explicar um pouco a cada pessoa que quer e tem interesse em tomar esse remédio para não fazer mal - diz um dos médicos que orienta as pessoas infectadas com o coronavírus para tomar ivermectina de acordo com seu peso e por dias consecutivos.

A publicação, até junho do ano passado, já foi vista mais de 214 mil vezes. Em outra publicação desse tipo, outro homem que se identifica como médico passa o que seriam dois protocolos de uso de ivermectina. Em um deles, ele orienta que o remédio sem eficácia comprovada seja tomado a cada três meses, no outro - a cada 30 dias.

- É o tempo que dura a pandemia.

O segundo vídeo, publicado em agosto passado, teve 252 mil visualizações. Em publicações mais recentes, os médicos responderam à notícia que mostra os efeitos colaterais naqueles que tomaram ivermectina para prevenir-se da doença. Já foram registrados casos de pessoas que desenvolveram hepatite aguda após o uso excessivo da droga.

MODERAÇÃO DE REDES

Para o deputado Paulo Ganime (Novo-RJ), relator da Lei das Notícias Falsas, as plataformas têm o direito de retirar vídeos que infrinjam suas diretrizes, desde que sejam bem claros. Ele pondera, porém, que deve haver cuidado na moderação das redes:

- Enquanto queremos evitar notícias falsas, queremos evitar censura.

Questionado sobre os critérios que adota para definir quais vídeos serão analisados ​​ou removidos, o YouTube informou em nota que todos os canais da plataforma devem seguir suas políticas e que os vídeos são sinalizados para revisão humana por meio de sistema automático, reclamações de usuários e seu Programa de Revisores . O GLOBO enviou na última quarta-feira exemplos de vídeos que violam as diretrizes do YouTube, mas a plataforma informou que não foi possível fazer uma análise do conteúdo a tempo para o encerramento desta edição. (* Trainee sob orientação de Thiago Prado)

 

280.983 Visualizações

LIVE  BOLSONARO

Além de ter postado vídeos antigos com defesas do uso de cloroquina e ivermectina contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a droga em uma nova postagem, mesmo depois de cinco vídeos de seu canal terem sido retirados pelo YouTube. No live ocorrido na última quinta-feira, Bolsonaro afirma ter usado os remédios e que os médicos defendem o tratamento com hidroxicloroquina e ivermectina.

 

7.279 Visualizações

MINISTÉRIO DA SAÚDE

A pasta do canal tem pelo menos dois vídeos no ar com a defesa de que o “tratamento precoce” evita o agravamento da Covid-19. Em um deles, o ex-ministro Eduardo Pazuello diz que os pacientes com sintomas do Covid-19 devem receber medicamentos com o objetivo de evitar o agravamento da doença. Em nota, o ministério informou que o conteúdo dos vídeos orienta e recomenda que, aos primeiros sinais do Covid-19, os pacientes procurem atendimento médico. Especialistas apontam, porém, que não existe um tratamento precoce eficaz contra a doença.

 

63.688 Visualizações

CANAL MÉDICO LUCY KERR

O médico especialista na área de ultrassom possui diversos vídeos que promovem a ivermectina contra a Covid-19. Pelo menos três de suas postagens já foram removidas pelo YouTube