O Estado de São Paulo, n. 46515, 23/02/2021. Metrópole, p. A15

SP tem o maior nº de internações em UTI por covid e vai endurecer restrições
Paulo Favero
Marco Antônio Carvalho
Erika Motoda
23/02/2021



Houve alta de 5,6% em relação à semana anterior. O interior é um dos principais focos de atenção e especialistas se preocupam com as novas variantes do coronavírus, como a cepa de Manaus. Na capital, a ocupação das UTIS é de 70%, a mais elevada em três meses

O Estado de São Paulo atingiu o maior número de internações em UTI desde o início da pandemia, em março de 2020. Houve alta de 5,6% em relação à semana anterior. O interior é um dos principais focos de atenção e especialistas se preocupam com as novas variantes do coronavírus, como a cepa de Manaus. Estudos preliminares indicam que ela tem maior potencial de transmissão. A gestão João Doria (PSDB) já prevê endurecer medidas de restrição ainda esta semana.

"Nossa atenção está ainda maior. Esse incremento de 5,6% no número de internações mostra o quanto existe a circulação intensa do vírus. Em julho de 2020, tivemos o pico de 6.250 internados, agora atingimos o número de 6.410 internados em UTI. Ultrapassamos o maior número da história da pandemia e temos de ter atenção especial a algumas regiões do Estado", disse Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde.

No Estado, a taxa de ocupação de UTIS é de 67,9%. e 67,8% na Grande São Paulo. Na capital, a taxa de ocupação das UTIS é de 70%, a mais elevada em três meses, segundo o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido. Dos pacientes de terapia intensiva, 22% são moradores de outras cidades. "A gente acaba recebendo muita gente de outros municípios. Estamos fazendo um monitoramento intenso e faremos reuniões sobre isso. Mas a cidade sempre foi mais restritiva do que as medidas previstas pelo Plano São Paulo (programa estadual de reabertura econômica). Não há problema em tomar medidas nesse sentido", afirma Aparecido.

A gestão Doria também tem cobrado aumento de verba da União para vagas em UTI – o governo paulista reclama de diminuição dos repasses. O Ministério Público Federal pediu na semana passada que a Justiça analise com urgência a situação de leitos financiados pelo Ministério da Saúde no Estado.

Segundo João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19, órgão ligado ao governo, preocupa o quadro no interior. "O Centro de Contingência apresentou recomendações extraordinárias e o governo está fazendo análise disso. Essas medidas adicionais ao Plano São Paulo serão anunciadas na quarta, para entrarem em vigor na sexta. Entre elas está a redução da mobilidade, que é o que podemos fazer neste momento para reduzir a transmissibilidade", disse, sem detalhar as futuras medidas.

Algumas cidades do interior já decretaram lockdown para tentar reduzir a transmissão do vírus. Araraquara é um dos municípios que fecharam tudo – incluindo supermercados – para tentar conter a contaminação.

Ao menos quatro regiões do Estado (Presidente Prudente, Barretos, Araraquara/são Carlos e Bauru) estão no alerta máximo, a fase vermelha. Com o agravamento da pandemia, gestores têm endurecido as medidas de isolamento. Medidas de toque de recolher têm sido adotadas em outros Estados, como Bahia, Ceará e Paraná.

Causas. Especialistas afirmam que a falta de testagem e de sequenciamento genético de amostras dos infectados são barreiras para entender o peso das novas mutações do Sarscov-2 no aumento de internações. Pelo menos dez Estados já registraram a cepa amazônica. Também preocupam as aglomerações vistas nas últimas semanas, como nas festas de ano-novo e no feriado do carnaval.

"Entendemos que a circulação da variante ainda tem uma proporção pequena, mas se ela for de fato mais transmissível é algo que pode contribuir para o recrudescimento de casos, internações e mortes", afirma Paulo Menezes, do Centro de Contingência.

O infectologista Max Igor Lopes, do Centro de Infectologia do Hospital Sírio Libanês, acredita que os efeitos das variantes podem estar no começo. "Ainda não tínhamos essas variantes quando a segunda onda começou (fim de 2020). Começamos a ter a contribuição das variantes agora e em localidades específicas", diz. "O que acontece é que temos um grande número de casos e, agora, essas variantes começam a ocupar porcentual maior deles."

Para Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, não dá para "prever" a situação de outras cidades com base em Manaus e Araraquara, pois a letalidade é dependente não só da alta circulação, mas da capacidade de atendimento hospitalar em cada região.

"Mas os ingredientes para termos o aumento estão todos aí: permeabilidade muito grande nas fronteiras no País, a gente não faz lockdown, os voos saem direto de Manaus para lá e para cá, as medidas de isolamento não têm grande adesão da população. A quantidade de pessoas não vacinadas ainda é enorme. Então, a produção de variantes Brasil afora é fato", disse.