Valor Econômico, n. 5234, 23/04/2021. Política, p. A8

 

Senado discute criar Refis para setores afetados pela pandemia

Renan Truffi

23/04/2021

 

 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e os líderes da Casa discutem retomar, na primeira quinzena de maio, a votação de projetos econômicos que estão paralisados desde o recrudescimento da pandemia. O principal deles é o que cria um programa de renegociação de dívidas tributárias (Refis), com melhores condições do que aquele editado em 2017. Essa possibilidade foi discutida na reunião de líderes ontem.

“Os senadores propuseram retomar um conjunto de projetos da área econômica, como aquele do novo Refis, e o presidente Rodrigo Pacheco anuiu. Provavelmente serão vários projetos dessa natureza na primeira quinzena de maio. Deveremos ter sessão para tratar de toda essa pauta represada”, explicou o líder da Minoria na Casa, senador Jean Paul Prates (PT-RN).

Como mostrou o Valor há algumas semanas, Pacheco está capitaneando a ideia de um novo Refis por meio de um projeto apresentado por ele mesmo no ano passado. A proposta já foi levada, inclusive, à equipe econômica, mas, agora, as negociações estão a cargo do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que foi designado relator da proposta. Uma das ideias é que o Refis fique limitado aos setores da economia que foram mais afetados pela pandemia desde o ano passado.

Além disso, os senadores querem discutir novos auxílios setoriais, na esteira do que foi feito em relação ao Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) e ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Sobre isso, segundo fones, Pacheco teria recomendado que o assunto fosse levado, primeiro, à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), de maneira agrupada.

Por fim, Jean Paul Prates aproveitou a discussão para pedir que seja incluído na pauta também uma proposta do senador Eduardo Braga (MDB-AM), que altera a tabela progressiva do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física e estabelece a incidência do IR sobre lucros e dividendos pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas. O senador do PT é relator da matéria e defendeu, na reunião, que o tema seja discutido junto das matérias econômicas.

Na prática, a proposta cria alíquota única para o imposto de renda da pessoa física, de 27,5% sobre rendimentos acima de R$ 4.990,00 mensais. Reduz para 12,5% a alíquota do imposto de renda da pessoa jurídica e para 7,5% a alíquota adicional. Além disso, revoga a isenção sobre os dividendos recebidos pelas empresas, criando alíquota de 15% nestes casos.

Por outro lado, a pedido do próprio governo federal, o projeto de lei que cria a “BR do Mar” não deverá mais tramitar em regime de urgência no Senado. O motivo é que neste regime a matéria passaria a trancar a pauta deliberativa a partir desta sexta-feira. O relator da proposta, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), no entanto, ainda precisa de ao menos “duas semanas” para negociar os termos do parecer final.

O objetivo do projeto é ampliar a navegação entre portos nacionais e reduzir a dependência do transporte rodoviário no país. Os senadores chegaram a discutir sua votação no mês passado, mas, na ocasião, a proposta enfrentou resistência de algumas bancadas. “Estamos chegando perto de uma centena de emendas sugeridas. Cheguei a fazer uma live com vários deputados do Rio de Janeiro, mas ainda falta equacionar sugestões de uns quatro senadores”, explicou Nelsinho ao Valor.

Com a aprovação da proposta, o governo espera que a capacidade da frota marítima dedicada a esse tipo de navegação seja ampliada em 40% nos próximos três anos, excluindo as embarcações dedicadas ao transporte de petróleo e derivados. Além disso, o governo também avalia que, com o projeto, seja possível aumentar em 65% o volume de contêineres transportados por ano até 2022 e obter crescimento estimado da cabotagem em 30% ao ano.