O Estado de São Paulo, n. 46831, 05/01/2022. Política, p. A6

Bolsonaro reage a tratamento clínico e equipe médica descarta cirurgia
05/01/2022



Internado em SP Quadro de obstrução intestinal 'se desfez', de acordo com boletim médico; aceita bem dieta líquida, tem sonda nasogástrica retirada, mas não há previsão de alta
 
A equipe médica responsável pela internação do Jair Bolsonaro descartou a necessidade de uma nova cirurgia na região abdominal. De acordo com boletim divulgado pelo Hospital Vila Nova Star, Bolsonaro reagiu bem ao tratamento clínico e o quadro de obstrução intestinal se "desfez". A evolução é considerada satisfatória, com sinais de recuperação do trato digestivo, mas ainda não há previsão de alta.

Ontem, aparentando estar bem disposto, o caminhou pelos corredores do hospital ao lado de seguranças. Nenhum deles usava máscara, como mostra uma foto divulgada nas redes sociais pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Na imagem, Bolsonaro ainda usava a sonda nasogástrica (colada ao nariz), que foi retirada ao longo do dia após a boa aceitação da dieta líquida oferecida, segundo afirmou boletim médico divulgado no início da noite.

Essa última internação – a segunda em seis meses – se deu mais uma vez em função de problemas no trato intestinal decorrentes do atentado a faca ocorrido durante a campanha de 2018. Dores abdominais levaram o a interromper as férias em Santa Catarina para buscar tratamento médico em São Paulo na madrugada de segunda.

Segundo afirmou o Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do , a alimentação do pai terá de ser regrada pelo resto da vida para evitar novas complicações. "Ele não pode se dar o luxo de fazer muitas coisas que gostaria", disse em entrevista à CNN . Flávio acrescentou que o gosta de comer "pastel, pizza e churrasco", alimentos que podem ter impacto no trato intestinal.

A decisão final sobre a escolha do tratamento foi do médico-cirurgião Antônio Luiz Macedo, que acompanha o desde 2018 e interrompeu suas férias para avaliar Bolsonaro no hospital. Ele chegou ao Vila Nova Star por volta das 6h de ontem e acompanhou a avaliação de colegas que já haviam sinalizado pela não necessidade de cirurgia.

Na última internação, em julho passado, a equipe médica também conseguiu evitar que o tivesse de ser operado – ele apresentava quadro semelhante de obstrução intestinal. Desde a facada, foram seis procedimentos cirúrgicos na região abdominal, o que leva os médicos a evitar ao máximo uma nova intervenção.

Em função dos problemas recorrentes, Bolsonaro ficou com herniações que limitam a mobilidade de seu intestino, órgão que se movimenta involuntariamente, de forma incessante. Se uma parte dele fica presa em uma dessas hérnias, ocorrem dores recorrentes. Pelo Twitter, o relatou ter sentido dor após o almoço de domingo.

Em geral, os médicos esperam cerca de dois para ver se o órgão volta a fazer o movimento esperado, cessando a obstrução. Assim como em julho, isso ocorreu desta vez, sendo possível, portanto, evitar a cirurgia.

DIETA. A dieta alimentar tem impacto direto na recuperação e na qualidade de vida de pacientes como o Jair Bolsonaro, destacam especialistas ouvidos pelo Estadão. Coordenador do Núcleo de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital Sírio-libanês, Marcelo Borba ressalta a importância de se seguir um cardápio específico.

"Nesses casos, tem de fazer uma certa dieta. É bom evitar alimentos que fermentam muito, como leite, ou que são muito fibrosos e de difícil digestão, como vegetais e legumes", disse o médico, que também chama a atenção para a quantidade de alimento ingerido.

"Quem tem essas aderências, e come muito, pode ter obstruções também, uma vez que aumenta o fluxo de alimento no intestino", disse Borba. "O importante é ter um acompanhamento nutricional. O que fazer nesse caso é tratar e, eventualmente, operar quando for muito necessário."

A médica Renata Fróes, que é doutora em gastroenterologia pela UERJ e titular do grupo de doenças inflamatórias intestinais do (GEDIIB), cita a carne como um alimento a ser evitado, principalmente na fase aguda do quadro clínico. Bolsonaro, por sua vez, sempre opta por comer churrasco em viagens, agendas externas e mesmo em eventos no Palácio da Alvorada.

No dia a dia, Renata afirma que a carne pode ser consumida, mas em pedaços pequenos e bem mastigados. No caso do consumo de gorduras, como citado pelo Flávio, a médica explica que, em geral, "o consumo de gorduras não tende a piorar o quadro, mas cada organismo responde de uma forma individual". As restrições foram classificadas por Michelle Bolsonaro como uma "sequela" a ser levada para o resto da vida.

PREVENÇÃO. Para Marcelo Borba, a aceitação de um dieta planejada pode ajudar a evitar novas intervenções cirúrgicas que, segundo ele, tendem a provocar mais aderências. "Quanto mais se opera, mais se criam aderências e mais difícil fica passar a comida", explicou.

Renata lista três condutas fundamentais para o dia a dia de Bolsonaro e pacientes com o mesmo quadro: alimentação orientada por nutricionista, ingestão de bastante água e prática regular de exercícios físicos. "A água é emoliente e faz a comida escorregar; enquanto o exercício físico fortifica a musculatura abdominal, o que faz com que as fezes passem mais facilmente pelo local obstruído", afirmou.