Valor Econômico, n. 5231, 19/04/2021. Política, p. A8

 

Suspeição de Moro gera apreensão entre petistas
Maria Cristina Fernandes
19/04/2021

 

 

 

A anulação, pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, das condenações impostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba estabeleceu as condições objetivas para a candidatura do PT, mas não aplacou a apreensão em relação à suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Para Lula, diz um petista muito próximo do ex-presidente, é a suspeição de Moro que lhe garante a “vitória moral” no processo. “Nenhum de nós está tranquilo em relação à decisão de quinta-feira”, diz esse dirigente.

E a razão é simples. A anulação das condenações em Curitiba não inocenta Lula. Os processos recomeçarão a partir da primeira instância do Distrito Federal ou de São Paulo, como aventou na semana passada o ministro Alexandre de Moraes. Ainda que não haja tempo para uma condenação em segunda instância que venha a tornar o ex-presidente novamente inelegível, não há segurança em relação ao que pode acontecer na primeira instância.

A nomeação de desembargadores pelo Executivo sempre abriu brechas à influência política. Em Brasília, por exemplo, tanto o presidente Jair Bolsonaro, que tem três vagas importantes a preencher - uma no Supremo Tribunal Federal e duas no Superior Tribunal de Justiça - quanto o MDB têm meios de exercer influência sobre o Tribunal Regional Federal da 1ª Região. O MDB, que se movimenta para fechar apoio ao ex-presidente, tem lideranças com bancadas no Judiciário, como o possível relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney, o primeiro a telefonar para Lula depois da decisão monocrática da anulação dos processos.

Já a primeira instância é formada por juízes que, egressos diretamente dos concursos públicos, são mais blindados de ingerências. A suspeição de Moro, na avaliação de petistas próximos do ex-presidente, lhe daria mais meios para conter uma eventual sentença de primeira instância. No PT ninguém se ilude de que as armas permanecerão baixadas em direção a Lula. Haverá escaramuças ao longo de toda a campanha, diz um petista.

Nos meios jurídicos de Brasília e entre ministros do Supremo, a única certeza é de que o resultado tende a ser apertado. Os ministros Edson Fachin, Kassio Nunes Marques, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux são votos dados como seguros contra a suspeição. Enquanto Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Carmen Lúcia estão fincados no outro lado. Rosa Weber, Marco Aurélio Mello e Alexandre de Moraes são as dúvidas.

Lula aguarda a definição do julgamento da suspeição para definir os próximos movimentos. O ex-presidente tem sido muito assediado por ex-aliados do Centrão, mas a movimentação vai começar pelos antigos aliados na esquerda com o binômio vacina e fome. A primeira viagem deve ser ao Maranhão do governador Flávio Dino (PCdoB), menor índice nacional de mortalidade pela pandemia.

A avaliação de que o adversário ideal para Lula seria Bolsonaro está muito longe de unificar o partido. A candidatura do presidente da República traz duas preocupações para o partido. A primeira é a de ele ainda ser capaz de mobilizar uma militância a despeito das evidências mais gritantes de sua responsabilidade na pandemia. Por mais fanática que seja, esta militância desperta questionamentos sobre a incapacidade de o PT mobilizar a sua quando os dois governos do partido estiveram na berlinda. E a segunda preocupação é com atos de violência.

Por isso, o PT acompanha de perto a movimentação dos pré-candidatos de centro. Sondagens da agência AM4 que têm chegado ao partido indicam que Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que tem negado qualquer interesse na política eleitoral, hoje tem um potencial muito maior do que o do apresentador Luciano Huck. A agência é de Marcos Carvalho, que fez a campanha digital de Bolsonaro e se distanciou da família depois de desentendimentos com o vereador Carlos Bolsonaro.

A ideia de levar um empresário para a chapa de Lula não está descartada. O MDB sonha em emplacar Josué Gomes, dono da Coteminas e filho de José Alencar, vice de Lula em 2002 e 2006. A despeito de ter disputado o Senado por Minas em 2014, sendo derrotado por Antonio Anastasia, o empresário não demonstraria o mesmo apetite que o pai pela política. Gomes assumirá, no segundo semestre, a Federação das Indústrias de São Paulo em substituição a Paulo Skaf.