O Globo, n. 32044, 01/05/2021, País, p. 7

 

Chamado de ‘ingrato’ Pacheco busca se aproximar de Flávio
Paulo Cappelli
01/05/2021

 

 

 

Após ser chamado de "ingrato" pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) por conta da CPI da Covid, o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ligou para o primogênito de Jair Bolsonaro e o convidou para participar de uma agenda privada ontem no Rio de Janeiro. O telefonema foi feito na quinta-feira e teve como objetivo buscar uma reaproximação com Flávio e com o núcleo presidencial. Na ligação, não houve pedido de desculpas entre eles. Mas o gesto de Pacheco de convidar Flávio para uma agenda no Rio, seu reduto eleitoral, foi apreciado. Em tom amistoso, o senador recusou o convite por já ter compromissos em São Paulo ontem, mas combinou de, na semana que vem, conversarem pessoalmente. Na terça-feira, antes mesmo da instalação da CPI, Flávio cobrou Pacheco no grupo que senadores mantêm nas redes sociais (leia ao lado). Como mostrou o colunista Gerson Camarotti, em seu blog no G1, Flávio demonstrou forte contrariedade com o fato de o Presidente do Senado ter desconsiderado uma decisão de um juiz federal de Brasília, que havia suspendido a eventual indicação de Renan Calheiros (MDB-AL) para a relatoria da comissão.

DECISÕES JUDICIAIS

Depois, Flávio reclamou publicamente de Pacheco pela suposta falta de critério ao acatar decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, parainst alara CPI da Covid. Pacheco se elegeu Presidente do Senado com o apoio do governo e de parte dos senadores de oposição e, desde então, vem equilibrando pratos para manter portas abertas com os dois campos. —Entendo que houve ingratidão do Presidente do Senado — disse Flávio, na terça-feira, na primeira crítica pública feita pelo núcleo de Bolsonaro ao chefe do Congresso. Nas redes sociais, deputados bolsonaristas chegaram a comparar Pacheco ao ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEMRJ), com quem Bolsonaro travou sucessivos embates. A reaproximação de Pacheco com Flávio é estratégica para ambos. Mesmo após a instalação da CPI da Covid, Bolsonaro ainda precisa de Pacheco para aprovar projetos no Senado e impedir o crescimento de agendas da oposição. Pacheco, por sua vez, vê como um ativo político e eleitoral o fato de transitar com facilidade entre governo e oposição. E não quer perder essa pecha de conciliador entrando em rota de colisão com o Planalto. Na quarta-feira, um dia após ser criticado pelo núcleo do presidente, Pacheco conversou com Bolsonaro durante reunião do comitê de enfrentamento à Covid-19 e fez questão de divulgar o encontro em suas redes sociais. Nele, Pacheco argumentou que não teria agido com falta de critério porque as duas decisões judiciais abordariam questões diferentes.