Correio Braziliense, n. 21.157, 28/04/2021, Brasil, p. 8 

 

Atrasos ameaçam aplicação de 2ª dose
Maria Eduarda Cardim 
Alexia Oliveira
Pedro Ícaro
28/04/2021

 

 

 

A lenta imunização contra a covid-19 no Brasil ameaça a aplicação da segunda dose de vacinas no país. O problema é mais evidente no reforço da CoronaVac, o imunizante mais utilizado nacionalmente. Diversas cidades já anunciaram a suspensão da aplicação da segunda dose do fármaco produzido pelo Instituto Butantan. Ontem, o Ministério da Saúde recomendou que a população tome a segunda dose mesmo fora do prazo estipulado pela bula. Foi a maneira encontrada para dizer o inevitável: haverá atraso no reforço da vacinação contra a covid-19.

"A população deve tomar a segunda dose da vacina contra a covid-19 mesmo que a aplicação ocorra fora do prazo recomendado pelo laboratório. Essa é a orientação do Ministério da Saúde, que reforça a importância de se completar o esquema vacinal para assegurar a proteção adequada contra a doença", disse a pasta, em nota. As duas vacinas contra a covid-19 disponíveis no Programa Nacional de Imunizações (PNI) exigem dupla aplicação. Enquanto a CoronaVac demanda um intervalo de quatro semanas, a vacina de Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Brasil, precisa de reaplicação no intervalo de 12 semanas.

A recomendação ocorre um dia depois do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconhecer a existência de dificuldades no fornecimento da segunda dose da CoronaVac. "O que tem nos causado certa preocupação é a CoronaVac, a segunda dose. Tem sido um pedido de governadores e prefeitos, porque, se os senhores lembram, cerca de um mês atrás, se liberou as segundas doses para que se aplicassem. E agora, em face do retardo de insumo vindo da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa 2ª dose", justificou Queiroga, na última segunda-feira (26), durante sessão da Comissão da Covid-19, no Senado Federal.

O Instituto Butantan, responsável pela CoronaVac, esclarece que a responsabilidade da organização se limita a produzir e distribuir o imunizante ao governo federal. "O Instituto Butantan esclarece que o Ministério da Saúde é o responsável por planejar e coordenar a campanha de vacinação contra a covid-19 em todo o Brasil. Todo o esquema vacinal, definição de públicos-alvo e de intervalos entre as doses, assim como a logística de distribuição das vacinas aos estados e as devidas orientações técnicas sobre a vacinação competem à pasta federal", informou o instituto.

O atraso na entrega de novos lotes da CoronaVac ameaça o cronograma de grupos que já tomaram a primeira dose do imunizante. Segundo o ministério, ao todo, 416.507 pessoas que tomaram a primeira dose da vacina, na 13ª e 14ª etapas de distribuição, permanecem com o esquema vacinal em aberto. Esse contingente é formado por três grupos prioritários: trabalhadores da saúde, forças de segurança, salvamento e Forças Armadas e idosos entre 60 e 64 anos. "A previsão de envio da segunda dose para esses grupos é para a primeira semana de maio, cumprindo o ciclo vacinal no tempo adequado", disse o ministério.

Eficácia
Apesar disso, a pasta reforça que a recomendação é para que as pessoas tomem a segunda dose, mesmo que a aplicação ocorra fora do prazo determinado. A nota técnica do Ministério da Saúde enviada ao estados diz ser "improvável que intervalos aumentados entre as doses das vacinas contra a covid-19 ocasionem a redução na eficácia do esquema vacinal".

No entanto, a pasta ressalta que "os atrasos em relação ao intervalo máximo recomendado para cada vacina (4 semanas para CoronaVac/12 semanas para Oxford) devem ser evitados, uma vez que não se pode assegurar a devida proteção do indivíduo até a administração da segunda dose".
Tazio Vanni, infectologista do Hospital Águas Claras, ressalta a necessidade da segunda dose na imunização. "Os estudos clínicos das duas vacinas mais utilizadas no país mostraram ser de suma importância que sejam aplicadas as duas doses para que se reduza o risco de se desenvolver a doença, especialmente as formas graves. Tomar apenas uma dose, além de ser insuficiente para a resposta imune desejada, pode dar uma falsa ideia de proteção e gerar uma maior exposição ao risco", explicou.