Valor Econômico, n. 5225, 09/04/2021, Brasil

 

Novo método deve acelerar análise do vírus
Ana Conceição
09/04/2021

 

 

 

Tecnologia criada em Pernambuco para sequenciar genoma do coronavírus pode ser 85% mais barata

Técnicos do Instituto Aggeu Magalhães, a unidade da Fiocruz em Pernambuco, desenvolveram método de sequenciamento do genoma do coronavírus que é 85% mais barato e ágil - os resultados saem em uma semana, em vez de três - que o sistema tradicional.

A tecnologia pode ajudar a elevar de forma expressiva os sequenciamentos num momento em que a transmissão muito acelerada do coronavírus no país promove o surgimento de novas variantes. Só nesta semana, foram identificadas novas cepas em Minas Gerais e no Maranhão. O sequenciamento ajuda a identificar as variantes e a monitorar aquelas já espalhadas pelo país, como a perigosa P1, de Manaus.

E o Brasil sequencia muito pouco, cerca de 0,05% dos casos confirmados. No Reino Unido, que lidera nessa área, essa taxa é de 5% a 6%.

“Precisamos dar celeridade de resposta ao poder público para combater novas variantes e também fazer um maior volume de análises. Esses dados são fundamentais para o combate à doença, tanto do ponto de vista epidemiológico, quanto na adaptação das novas vacinas e de testes diagnósticos”, afirma Matheus Figueira Bezerra, técnico que liderou o desenvolvimento do método, que deve começar a ser utilizado em Pernambuco ainda neste mês.

O teste é mais barato - o custo só com insumos cai de cerca de R$ 700 para R$ 100 a unidade - e mais rápido porque se baseia numa técnica que já é largamente utilizada e disponível no Brasil e no mundo, o chamado sequenciamento de Sanger, ou sequenciamento por eletroforese capilar. Em vez do genoma inteiro, os técnicos sequenciam um pequeno trecho, que é o que carrega informações suficientes para distinguir as mutações, segundo o pesquisador.

De acordo com Bezerra, essa foi a solução encontrada para contornar as dificuldades que envolvem o sequenciamento completo do genoma do vírus, considerado hoje o padrão-ouro para identificação dessas variantes, mas tem uma execução complexa, cara e demorada. A quantidade de laboratórios no Brasil e no mundo que possuem um sequenciador de nova geração não é suficiente para atender à demanda atual. Além disso, alguns insumos necessários para o sequenciamento estão em falta por causa da maior demanda global.

A ideia, porém, diz Bezerra, não é substituir o sequencimento completo, já que à medida que o patógeno evolui outras mutações vão surgir em outras áreas do vírus. “O objetivo do nosso método é apenas possibilitar que o monitoramento das variantes seja realizado em escala bem maior de amostras com menos tempo e custo.”

Nesse sentido, o pesquisador aponta outra vantagem do método: ele pode ser rapidamente adaptado para testar outras regiões do genoma do vírus.

Um artigo sobre a tecnologia acaba de ser publicado na plataforma de preprints da área de saúde medRxiv e está à espera de publicação em revistas científicas. A intenção, diz Bezerra, é que a utilização do teste se espalhe pelo maior número de laboratórios, o que poderia dar aos gestores do setor de saúde informações mais ágeis inclusive para a adoção de medidas como lockdowns e outras restrições de circulação.

“O método foi disponibilizado em plataformas abertas para que pesquisadores de outros Estados e países possam utilizá-lo”, afirma Bezerra.

Pesquisadores de outros institutos vêm criando testes mais rápidos de detecção de variantes do coronavírus. A equipe de Felipe Naveca, da Fiocruz Amazonas, por exemplo, criou um método de identificação em tempo real da variante P1.