Valor Econômico, n. 5224, 08/04/2021, Política

 

Agente da Abin que vazou caso de Flávio é alvo da PF
Murillo Camarotto
Matheus Schuch
08/04/2021

 

 

 

A Polícia Federal deflagrou na segunda-feira operações de busca e apreensão em endereços ligados a um servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que estaria envolvido com vazamentos de informações relativas a um suposto favorecimento do órgão ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Uma sindicância interna identificou que esse servidor teria sido a fonte de matérias jornalísticas que apontaram a produção de relatórios de inteligência focados na defesa do senador, que é investigado por desvio de dinheiro público. A situação do servidor se complicou após a apuração verificar que o vazamento teria incluído dados de outros funcionários da agência.

Próximo da família Bolsonaro, o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, confirmou que a sindicância feita pelo órgão não encontrou nenhum relatório em favor de Flávio, informação que também foi divulgada em nota oficial emitida pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Ainda assim, há uma convicção interna de que agentes da Abin contribuíram, sim, com o senador. Apesar de não estar respaldada em documentos oficiais, que poderiam ser rastreados nos sistemas da agência, teria ocorrido uma espécie de assessoria informal ao filho do presidente Jair Bolsonaro, como uma forma de “mostrar serviço” ao governo.

O assessoramento teria sido feito por meio de mensagens trocadas por aplicativos de celular. O caso é tratado com extrema cautela dentro da Abin, especialmente após a ação da PF contra o servidor. As informações referentes à sindicância foram compartilhadas com a Controladoria-Geral da União (CGU), que também está acompanhando o caso.

De acordo com o GSI, o servidor envolvido com o vazamento das informações foi afastado de suas funções pela Corregedoria da Abin e responderá a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Apesar de afastar qualquer possibilidade de produção de relatórios de inteligência em favor do senador, o GSI não descartou que algum tipo de colaboração possa ter acontecido.

Ainda assim, o órgão prometeu acionar judicialmente os “responsáveis pelas notícias”, sem deixar claro quem será o alvo dos processos. “Independentemente da condução do inquérito pela Polícia Federal, serão adotadas medidas judiciais, criminais e cíveis, contra os responsáveis pelas notícias, que visavam desmoralizar e atingir a credibilidade das duas instituições e de seus servidores”, disse o GSI.

No fim do ano passado, a revista “Época” revelou que a Abin teria elaborado ao menos dois relatórios para orientar a defesa do senador no caso envolvendo Fabrício Queiroz, que foi assessor de Flávio no período em que ele foi deputado estadual no Rio.

O Ministério Público do Rio de Janeiro apura o esquema de desvios de salários de servidores, prática conhecida como “rachadinha”. As apurações tiveram início a partir de relatório do Conselho de Coaf, que apontou movimentação financeira atípica nas contas de Queiroz. Flávio é acusado de organização criminosa, lavagem de dinheiro e peculato. Queiroz é apontado como operador do esquema. Todos negam qualquer irregularidade.