O Globo, n. 32041, 28/04/2021, Economia, p. 21

 

Resposta a pressão
Manoel Ventura
Geralda Doca
Jussara Soares
28/04/2021

 

 

 

Pressionado após a crise entre governo e Congresso em torno da aprovação do Orçamento e sob risco de desmembramento da pasta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, promoveu ontem uma ampla reformulação em seu time. A principal mudança foi a saída de Waldery Rodrigues Júnior da secretaria especial da Fazenda, para se tornar assessor especial do ministro. Waldery é frequentemente apontado por congressistas e pelo restante do governo como de difícil trânsito nas negociações e se desgastou ainda mais durante as discussões da proposta orçamentária deste ano.

No total, foram seis trocas na pasta. Os novos nomes têm perfil técnico, mas fazem parte de um esforço para melhorar a interlocução da equipe econômica com o Legislativo e com a ala política do governo. A expectativa do Palácio do Planalto é que, após a reformulação, o Ministério da Economia consiga manter sua atual estrutura, sem abrir mão do Planejamento.

Não é a primeira vez que Guedes promove reformulações na equipe em momentos de turbulência. Dos oito secretários especiais que entraram em janeiro de 2019, só um é do time original, o chefe da pasta de Competitividade, Carlos da Costa. Todos os outros foram substituídos, sem contar mudanças em escalões inferiores. Desde o início do mandato do presidente Jair Bolsonaro, já deixaram o governo ao menos 12 auxiliares de Guedes ou indicados dele para postos-chave em estatais como BNDES, Petrobras e Banco do Brasil.

PRESSÃO QUASE DESUMANA

Ao fim do dia de mudanças, ontem, Guedes deu uma entrevista para reforçar que as trocas são naturais, novas mudanças podem ocorrer, eque o grupo permanece unido:

— O que está acontecendo, na verdade, é um remanejamento da equipe. Nós estamos jogando em 4,4,2 e nós vamos jogarem 4,3,3. Justamente para facilitaras negociações do Congresso, para facilitar as conversas com o próprio Executivo, com os ministérios — disse Guedes, comparando a mudança com o esquema tático de um time de futebol.

Walderydarál ugara Bruno Funchal, atual secretário do Tesouro Nacional. Também deixa o cargo o secretário de Orçamento Federal, George Soares, que será substituído pelo ex-secretário executivo do antigo Ministério da Fazenda Ariosto C ulau. Ele atuo uno governo do ex-presidente Michel Temer.

O ministro admitiu que as áreas ligadas ao controle das contas públicas sofrem com o desgaste na negociação política, mas negou que tenha havido pressão para as trocas específicas.

— Tem um certo aumento de resistência, as negociações são difíceis. A função dele (Waldery) é muito difícil. No caso da secretaria de Fazenda, é onde está o foco também, onde o“não” édito com muita frequência — disse Guedes, que completou em outro ponto da entrevista :

— É quase desumana a pressão que existe sobre otim e todo. E é natural. Não houve nada específico.

Guedes afirmou ainda que as conversas para as trocas ocorreram ao longo dos últimos meses. No caso de Soares, o ministro afirmou que partiu do próprio técnico a avaliação de que o desgaste estava grande:

—O desgaste do George é muito grande, é brutal. Ele mesmo falou assim: “Olha, eu acho que está na hora, para facilitar o andamento das reformas, está na hora de eu recuar”.

Dentro do Palácio do Planalto, a avaliação é que Funchal dará mais agilidade ao governo eirá melhorara situação de Guedes na Esplanada. A aposta é que, com a reformulação no time, diminuirão as pressões para recriação do Ministério do Planejamento, que nas gestões anteriores era responsável pelas atribuições hoje sob o comando de Waldery e Soares. A pasta foi uma das quatro incorporadas ao superministério de Guedes.

Essa leitura, no entanto, não é compartilhada por todos os observadores da crise. Para integrantes da ala política e do segmento empresarial, as substituições não encerram a crise. O entendimento é que Funchal tem o mesmo perfil fiscalista de Waldery. Seria preciso, na visão desses grupos, pôr no lugar alguém operacional, “que saiba fazer” , como resumiu um peso-pesado do setor produtivo. O nome preferido dos dois grupos é Esteves Colnago, chefe da assessoria especial do Ministério da Economia e ex-ministro do Planejamento.

SEM BRECHA PARA GASTOS

Integrantes do Ministério da Economia garantem que as trocas não significam mudanças na condução da política econômica, nas medidas de controle das despesas públicas e nem devem se transformar em brecha para mais gastos.

Além das mudanças nas áreas voltadas para a gestão orçamentária do ministério, também é dada como certa a saída da secretária especial do PPI, Martha Seillier. Essa área é voltada às concessões e privatizações do governo federal. O nome que irá substituí-la ainda não foi definido, e há a possibilidade de o PPI voltar para o Palácio do Planalto, por pressão principalmente do ministro da Secretaria Geral, Onyx Lorenzoni. Hoje o órgão está dentro da estrutura do Ministério da Economia. Martha deve assumir um cargo no BID, o que vem sendo negociado há semanas no governo.

Também ontem, foi confirmada a saída de Vanessa Canado da assessoria especial do ministro dedicada à reforma tributária. Ela será substituída pelo professor da FGV Isaías Coelho. Sem relação com acrise do Orçamento, a saída da assessora já era dada como certa há meses, diante do desgaste entre Guedes e o grupo ligado ao ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), segundo fontes. A advogada tributarista foi uma das autoras da proposta defendida por Maia e criticada pela equipe econômica.

Também estaria de saída, embora ainda não confirmada, a secretária-adjunta de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Yana Dumaresq. Ela deve passara atuar na iniciativa privada. Em sua vaga deve assumir João Rossi, secretário-adjunto de Negociações Internacionais da Economia.