O Globo, n. 32038, 25/04/2021, País, p. 12

 

Políticos reagem à fala de Bolsonaro sobre Exército
Adriana Mendes
Thiago Herdy
25/04/2021

 

 

 

Governadores e parlamentares de oposição a Jair Bolsonaro criticaram ontem, ao longo do dia, as declarações dadas pelo presidente no sábado à “TV Crítica”, do Amazonas. Em novo ataque às medidas restritivas contra a Covid-19 determinadas por estados e municípios, Bolsonaro disse considerar a hipótese de as Forças Armadas irem às ruas para garantir a ordem caso o isolamento social para combater o novo coronavírus promova o que chamou de “caos”. Na entrevista, o presidente afirmou que, se preciso, o Exército será convocado para “restabelecer todo o artigo 5º da Constituição”, que faz referência aos direitos individuais da população, como o de ir e vir ou a liberdade religiosa.

— O nosso Exército, se precisar, iremos para as ruas. Não para manter o povo dentro de casa, mas para restabelecer todo o artigo 5º da Constituição. E se eu decretar isso, vai ser cumprido esse decreto. As Forças Armadas podem ir para a rua, sim —disse Bolsonaro, que ontem, sem máscara, causou aglomeração ao conversar coma população, em Ceilândia e Sol Nascente, no Distrito Federal.

Ainda à “TV Crítica”, Bolsonaro se estendeu: —Estou junto com os 23 ministros, da Damares ao Braga Netto, praticamente conversado sobre isso daí: o que fazer se um caos generalizados e implantar no Brasil. Pela fome, pela maneira covarde que alguns querem impor essas medidas restritivas para o povo ficar dentro de casa. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) reagiu:

—Apostura demonstra mais um avezo quanto Bolso na rotem devoção pelo autoritarismo e a ler giaà democracia. Ele selou um pacto coma morte que só não é maior no Brasil por conta da ação de governadores e prefeitos. Para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), a ameaça de colocar as Forças Armadas nas ruas é “absurda”. Dino lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) deu o aval, desde abril do ano passado, para que governantes adotassem medidas restritivas durante a pandemia.

— Bolsonaro insiste em afrontar o Supremo, que já decidiu que as três esferas de governo podem e devem atuar contra o coronavírus. E também reitera essa absurda ameaça de intervenção militar contra os estados, que não existe na Constituição. Ele deveria se dedicar mais ao trabalho e abandonar essas insanidades — declarou o governador. No Legislativo, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), reclamou que o presidente tenta, com a declaração, tirar o foco da necessidade de comprar vacinas para acelerar o processo de imunização da população.

—Se o presidente quer que abra o comércio, é só ele vacinar mais rápido. É só dar conta de cumprir a responsabilidade dele, que é comprar vacina — disse Ramos, completando:

—Ele não tem que bater em governadores, tem que comprar vacina. Eu não falo com presidente sobre outra coisa que não seja vacina, kit de intubação e oxigênio. O líder de oposição da Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), ressaltou que Bolsonaro “sabotou as medidas restritivas” ao longo do último ano. Para ele, o presidente é o principal fator para que o “caos se instale no país”:

—Mais uma vez, Bolsonaro viola os deveres e limites de seu cargo e afronta a Constituição. Já passou da hora de o Congresso processá-lo por seus crimes de responsabilidade. Enquanto não se fizer isso, ele vai continuar agindo assim. Em rede social, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também criticou Bolsonaro: “O presidente humilha e rebaixa as Forças Armadas ao tratá-las como se fossem uma milícia pessoal a seu serviço na guerra declarada contra adversários políticos do governo ”.

VIOLAÇÕES NA INTERNET

Na sexta-feira, Bolsonaro teve quatro vídeos de seu canal no Youtube apagados pela plataforma por “violação das políticas de desinformação médica sobre a Covid”. As imagens incentivavam ou sode remédios sem eficácia para combatera doença. No ano passado, vídeos em que o presidente aparecia aglomerado foram deletados pelo Twitter.