O Globo, n. 32037, 24/04/2021, Mundo, p. 21

 

Biden acena a adversário e elogia anúncios do Brasil
Ana Rosa Alves
24/04/2021

 

 

 

Ao fazer o balanço da Cúpula de Líderes sobre o Clima encerrada nesta sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que os compromissos apresentados pelo presidente Jair Bolsonaro são "notícias encorajadoras". O segundo dia de eventos foi marcado por debates sobre tecnologias verdes, oportunidades econômicas e o que será necessário para implementar políticas ambientais mais ecológicas e ambiciosas.

— Ouvimos notícias encorajadoras da Argentina, do Brasil, da África do Sul e da Coreia do Sul — disse o presidente americano, elencando os países participantes em seu discurso de encerramento. — Estou ansioso para trabalhar em conjunto com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em uma nova parceria para atingir nossos objetivos climáticos e energéticos, fazendo deles um pilar central das nossas relações bilaterais.

O aceno de Biden ao Brasil, no entanto, não deve ser visto como um grande triunfo pelo Planalto: Biden foi mais generoso com nações que assumiram compromissos mais contundentes, como vinha demandando. O presidente americano ressaltou as "metas ambiciosas" anunciadas por dois de seus maiores aliados, o Japão e o Canadá, que se comprometeram respectivamente a cortar suas emissões de gases causadores do efeito estufa em 50%, em comparação com os níveis de 2013, e 45%, em comparação com os níveis de 2005.

— Essas metas vieram da demonstração de liderança da União Europeia e do Reino Unido. Assim, metade da economia do planeta está comprometida a limitar o aquecimento global a 1,5oC — disse Biden, referindo-se à mudança de temperatura máxima para que se evite um cataclisma.

 

Pressionado a tomar medidas mais contundentes diante de sua desastrosa política ambiental, Bolsonaro anunciou na quinta que anteciparia em dez anos, para 2050, o prazo para o Brasil neutralizar suas emissões de carbono, apesar de não explicar como pretende fazê-lo. Em um anúncio que foi considerado insuficiente por ex-ministros ouvidos pelo GLOBO, o governo brasileiro manteve as mesmas metas de redução das emissões assumidas em 2015 no âmbito do Acordo de Paris: cortar as emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030, além de zerar o desmatamento ilegal até 2030.

 

Veja o que aconteceu durante o encerramento da cúpula:

Fechando cúpula, Biden disse ter visto 'progresso importante', mas que é necessário ação
Ao encerrar a Cúpula, Biden disse também crer houve "progresso importante" nos últimos dois dias no combate ao que classificou como uma "emergência existencial". Nesse sentido, ele destacou o recém-anunciado plano americano que prevê dobrar as verbas para ações climáticas em países em desenvolvimento. À decisão americana, se somaram ainda uma iniciativa bilionária para as florestas e a pressão pelo maior envolvimento do setor financeiro na transição para uma economia verde.

— Compromisso sem ação é só um monte de ar quente, sem trocadilhos. Precisamos implementá-los e acelerá-los — disse Biden, afirmando crer que o mundo será capaz de responder ao desafio, um "imperativo econômico e moral". — Nações que trabalham juntas para investir em uma economia mais limpa vão colher os benefícios para seus cidadãos.

 

Biden falou sobre como os EUA planejam atingir seu objetivo de cortar entre 50% e 52% suas emissões de gases causadores de efeito estufa até 2030. A meta anterior americana, firmada pelo ex-presidente Barack Obama em 2015, no âmbito do Acordo de Paris, era de cortar as emissões entre 26% e 28% até 2025.

 

— Chegaremos lá investindo em trabalhadores, vagas de emprego e infraestrutura americana, criando uma economia mais resiliente — disse Biden.

Tanto o presidente quanto seu enviado climático especial, John Kerry, ressaltaram que os debates continuarão ativos até a COP-26, cúpula climática da ONU que acontecerá em novembro em Glasgow, na Escócia.

— Os  próximos dez anos são críticos para que tomemos as decisões críticas para evitar os piores efeitos da crise climática — disse Kerry — É a última esperança que teremos para unir o mundo e movê-lo na direção necessária.

Biden espera que colaboração climática global supere desafios geopolíticos
Biden disse ainda que até mesmo adversários podem encontrar lugares comuns no combate à emergência climática, citando especificamente sua relação com o presidente Vladimir Putin. O presidente americano já havia citado o discurso feito ontem pelo líder russo em uma intervenção mais cedo nesta sexta, afirmando que esperava colaborar com Moscou no âmbito climático, mas retomou o assunto em alguns comentários informais antes de sua fala de encerramento.

— O presidente Putin e eu temos nossas desavenças, mas ele está falando sobre como você pode capturar carbono do espaço — disse Biden. — Faz muito sentido: por mais que eu e o presidente da Rússia tenhamos discordâncias, duas grandes nações podem cooperar para conquistar um objetivo.

 

A Casa Branca e o Kremlin protagonizaram nas últimas semanas uma escalada retórica diante dos avanços russos na Crimeia, território ucraniano anexado unilateralmente pelos russos em 2014 após a chegada de um governo pró-Ocidente ao poder. Na quinta, Moscou anunciou que iria finalizar suas atividades militares na região.

Em sua fala informal, Biden recapitulou o debate que aconteceu mais cedo sobre tecnologias verdes, afirmando que o mundo vê uma oportunidade de transformar uma crise em oportunidade. Segundo o presidente, o mundo passa por uma Quarta Revolução Industrial que traz a necessidade de maior união global para evitar o cataclisma. A colaboração, ele disse, se faz presente também na pandemia.

— Não é possível erguer um muro suficientemente alto que te proteja do vírus — disse Biden, ressaltando que os EUA estão trabalhando em planos para exportar vacinas.

Com a campanha de vacinação avançada, os americanos impuseram no ano passado um veto de fato na venda de doses para outros países, protecionismo que dificulta a vacinação em nações mais pobres.

'Tecnologia limpa é a nossa viagem para a Lua', diz secretária de Energia de Biden
Mais cedo, a secretária de Energia de Biden, Jennifer Granholm, ressaltou os planos americanos para incentivar energias limpas. Ela prevê que haja um potencial de US$ 23 trilhões no mercado de transição energética até 2030 — o que significa, disse, uma oportunidade para recuperar as economias e criar novos empregos. Ela ressaltou ainda que o governo tem a meta de reduzir o custo de energias "limpas, renováveis e baseadas no hidrogênio" até 80% até o fim da década.

 

— A tecnologia limpa é a viagem para Lua de nossos tempos — disse Granholm. —  Precisamos de uma mentalidade que supere a resistência à mudança. Muitos estão presos no status quo.

No mesmo prazo, a secretária disse que os EUA planejam cortar os preços de baterias pela metade, tornando carros elétricos mais financeiramente viáveis. A transição de veículos movidos a gasolina para carros elétricos é vista como fundamental para que os EUA cumpram sua recém-anunciada meta de reduzir suas emissões entre 50% e 52% até o fim da década e zerar sua emissão líquida de carbono até a metade do século.

Bill Gates, fundador da Microsoft, ressaltou o engajamento da juventude no debate climático. O bilionário ressaltou que inovações tecnológicas são chave para conter a crise climática, já que as tecnologias limpas atualmente disponíveis são caras. Segundo ele, é caro, mas viável, construir a infraestrutura necessária para chegar à meta de limitar o aumento da temperatura global.

Gates defendeu maiores investimentos em inovações tecnológicas e políticas públicas mais eficientes, com recompensas para quem tomar os passos necessários e pesquisas. Ele ressaltou ainda uma de suas iniciativas, a Catalisadora Breakthrough, para investir em tecnologias ambientais emergentes. Disse ainda que é vital tratar dos impactos já causados pela crise ambiental, com o desenvolvimento mais rápido de tecnologias para a agricultura, por exemplo.

 

— Apenas usar as tecnologias de hoje não vai permitir que cheguemos às nossas metas ambiciosas — disse Gates.

EUA destacam promessas para reduzir emissões no setor dos transportes
Nos debates, o  secretário de Transporte dos EUA, Pete Buttigieg, ressaltou que o setor é hoje o maior responsável pela emissão de gases causadores de efeito estufa no país, respondendo em 2019 por 29% do total. Buttigieg, ex-pré-candidato democrata à Presidência, ressaltou o plano da Casa Branca para criar mais vagas de emprego, que prevê investimentos em veículos elétricos, ferrovias e outras fontes sustentáveis que irão ajudar o país a reduzir suas emissões.

— Buscar a neutralidade do carbono não é um jogo de soma-zero. Nós todos vamos nos beneficiar disso — disse o secretário. — Se a pandemia nos ensinou alguma coisa, é o quão somos interconectados e nossa capacidade de realizar mudanças.

Buttigieg, segundo o New York Times, vem trabalhando em conjunto com a Agência de Proteção Ambiental para apresentar até junho novas diretrizes que reduzam a poluição causada pelos automóveis e obrigando a indústria automobilística a construir e vender veículos elétricos. As medidas reverteriam medidas impostas pelo governo do ex-presidente Donald Trump, que flexibilizaram os limites de emissão em veículos e setores da indústria, por exemplo.

 

Espanha defende diálogo entre sindicatos e empresas
O premier espanhol, Pedro Sánchez, destacou que a ação climática deve pôr as pessoas no centro, já que o processo de descarbonização produzirá “vencedores e perdedores”. Neste sentido, ele disse, o apoio governamental às comunidades mais afetadas é essencial. Sánchez prometeu ainda que até 2022, o país terá reduzido 85% da capacidade de geração de energia por meio do carvão em comparação com 2018.

O premier disse ainda acreditar que a transição para a energia limpa pode criar quase três vezes mais empregos que combustíveis fósseis para cada milhão de dólares gastos. Na Espanha, a estimativa é que o setor mobilize cerca de 230 bilhões de euros na próxima década, gerando entre 250 mil e 350 mil vagas de emprego, majoritariamente na construção civil e na indústria. Cerca de 40% dos recursos vindos do fundo de recuperação europeu pós-pandemia, ele disse, também serão alocados neste sentido.

Polônia se compromete a reduzir dependência de combustíveis fósseis
Também integrante da União Europeia, a Polônia defendeu que os líderes globais considerem o papel que os Bancos Centrais possam assumir na transição para uma economia verde. Tal qual Sánchez, o presidente Andrzej Duda disse ainda que apoia as ambições climáticas apresentadas ontem por Bruxelas e que irá investir em energia solar, nuclear, eólica e à gás para ajudar a reduzir a presença do carvão em sua matriz energética, reduzindo a para 11% até 2040, em comparação com os 70% atuais — percentual maior que o de qualquer outro país europeu.

 

Vietnã e Nigéria pedem que países ricos ajudem nações em desenvolvimento
O presidente vietnamita, Nguyen Xuan Phuc, prometeu reduzir o uso de carvão como matriz energética até 30% nos próximos quatro anos e cortar em 10% as emissões de metano na agricultura. Ele disse apoiar a meta de atingir a neutralidade das emissões de carbono até 2050, algo essencial para limitar o aumento da temperatura global a 1,5oC.

Similarmente ao presidente Jair Bolsonaro, no entanto, defendeu que países ricos ajudem a financiar as ações de países mais pobres e que as metas sejam variáveis de acordo com suas capacidades financeiras. Já o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, ressaltou os compromissos de seu país para fazer a transição do uso de fornos de madeira e querosene para outras fontes de energia menos poluentes. Ele se comprometeu também a reduzir suas emissões em 20%, ou 45% com apoio internacional, até 2030.

Biden ressalta oportunidades econômicas do desafio climático, mas diz que cúpula é apenas 'um começo'
Abrindo a segunda parte da manhã, sobre as oportunidades econômicas do desafio para conter a emergência climática, Biden afirmou que "fizemos muito progresso" durante a cúpula, um "começo" para que os compromissos sejam concretizados até a COP-26, cúpula da ONU sobre o clima em novembro, na Escócia.

Ao fim de sua primeira intervenção, Biden foi questionado por um repórter, enquanto a imprensa era retirada da sala, qual foi sua opinião sobre a fala de Bolsonaro. O presidente americano permaneceu em silêncio.

 

Durante essa fala, Biden destacou parcerias com outras nações para conter as emissões em uma série de setores-chave: Washington se juntará à Índia e à Suécia para acelerar a transição industrial e, no setor energético, trabalhará ao lado dos britânicos.

Ele anunciou também, em conjunto com os Emirados Árabes Unidos, a Missão de Inovação da Agricultura para Iniciativas Climáticas, uma iniciativa recém-apresentada para desenvolver pesquisas e tecnologias para tornar o setor mais verde. O presidente destacou ainda a necessidade de maiores investimentos tecnológicos para chegar à neutralidade do carbono, algo que "todos os países precisaram fazer".

— A sessão final de hoje não é sobre as ameaças que as mudanças climáticas representam — disse Biden. — É sobre as oportunidades que tratar do aquecimento global permitem, uma oportunidade de criar milhões de vagas de emprego em setores de inovação pelo mundo —  completou, afirmando que muitas dessas áreas ainda sequer existem.

O democrata ressaltou que os investimentos em resiliência e oportunidades climáticas criam empregos, uma das partes centrais do seu recém-apresentado plano para aumentar as vagas nos EUA. Biden citou especificamente a construção de veículos elétricos e das estações de recarga para acomodá-los, casas eficientes e construção de painéis solares e hélices de energia eólica.

 

2021 no caminho para ser o segundo ano com maior aumento de emissões da História
Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia, ressaltou que 2021 está no caminho para ser o segundo ano com o maior aumento de emissões da História, correspondendo a 1,5 bilhão de toneladas de gases poluentes na atmosfera. O recorde é de 2010, durante a recuperação da crise financeira.

— Nós não estamos nos recuperando da pandemia de uma maneira sustentável — disse ele, durante uma sessão mediada pela secretária de Comércio americana, Gina Raimondo, que ressaltou a necessidade de maiores colaborações entre o governo, o setor privado e a academia.

Segundo a agência, parte significativa desse aumento vem da demanda por carvão no setor energético, algo que as iniciativas nacionais ainda não são suficientes para conter. Diante disso, disse Birol, é essencial que o mundo não se limite à retórica e que é imperativo adotar, baratear e desenvolver novas fontes de energia limpas:

— Cerca de metade das reduções para atingir a neutralidade do carbono até 2050 precisarão vir de tecnologias que ainda não estão disponíveis no mercado. Isso demanda saltos maciços na inovação, baterias, hidrogênio, combustíveis sintéticos, captura de carbono e muitas outras tecnologias.

Audrey Zibelman, diretora da Google X, iniciativa da gigante tecnológica para acelerar fontes de energia limpa mais baratas e eficientes, discursou sobre a necessidade de maiores investimentos e tecnologias e ressaltou que os Estados Unidos e o Reino Unido se juntarão ao Consórcio para a Transformação do Sistema Energético Global, uma iniciativa dos sistemas energéticos da Austrália, da Irlanda, da Dinamarca e do estado americano da Califórnia, que busca unir atores para fomentar uma transição energética rápida e eficiente.

 

A sessão contou ainda com participações de Danielle Merfeld, vice-presidente do setor de energia renovável da GE, que falou sobre as tecnologias da empresa para a produção de energia limpa.

Noruega ressalta participação na 'Leaf Coalition'
A primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, ressaltou a participação do país na chamada “Leaf Coalition”, projeto que lidera com os Estados Unidos e com um grupo de empresas para remunerar governos nacionais e estaduais por seus resultados na preservação de biomas. O plano tem como objetivo levantar um financiamento inicial de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões) — para ter acesso ao dinheiro, os interessados terão que apresentar projetos até julho, e os valores só serão disponibilizados caso mostrem resultados positivos.

O formato é similar ao do Fundo Amazônia, criado em 2008 mas paralisado desde 2019, quando Alemanha e Noruega, responsáveis pelo financiamento, suspenderam os repasses após o governo Bolsonaro extinguir comitês que orientavam quais projetos seriam financiados. Em seu discurso, Solberg disse ainda que seu país implementou satélites que vistoriam e mensuram o desmate em todas as florestas tropicais do planeta.

Ela também destacou as soluções climáticas baseadas no oceano, ressaltando que planeja cortar pela metade, até o fim da década, as emissões da pesca e do setor marítimo. Disse também que o país vem aumentando seus investimentos em ferramentas e inovações para a captura e armazenamento de carbono e na energia eólica. 

Israel promete abolir o uso do carvão como fonte de energia até 2025
O premier de Israel, Benjamin Netanyahu, prevê que até o final da década um terço da energia israelense venha de fontes sustentáveis. Ele prometeu ainda que seu país atingirá a neutralidade do carbono até 2050 e que prevê abolir combustíveis fósseis, cessando o uso do carvão como fonte de energia até 2025. O país é hoje um dos líderes globais no ritmo de redução de sua dependência da matriz.

Netanyahu disse ainda que o país aumentou de 2% para quase 10% nos últimos cinco anos a presença da energia solar em sua matriz energética. Até o fim da década, ele prometeu, um terço da energia elétrica usada no país será sustentável.O premier disse ainda que Israel aumentará os investimentos para o armazenamento de energia solar e que continuará seus investimentos bilionários nas empresas locais que trabalham neste sentido.

Em seguida, o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, ressaltou que 90% da energia do país é limpa e o plano é que se chegue a 100% até o fim da década, diante do pioneirismo queniano na energia geotérmica, o quinto maior produtor do planeta, mas com ainda bastante potencial de exploração. Ele afirmou também que planeja zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, mas defendeu que a iniciativa privada e países ricos contribuam com ao menos US$ 100 bilhões para que as nações em desenvolvimento atinjam seus objetivos.

 

Dinamarca, uma "ilha de energia limpa"
A Dinamarca vai construir uma ilha de energia limpa no Mar do Norte, anunciou a primeira-ministra Mette Frederiksen. O projeto histórico, cujas dimensões equivalem a cerca de 18 campos de futebol, servirá como plataforma flutuante para 200 turbinas eólicas offshore gigantes e será capaz de fornecer energia para 10 milhões de residências. Quase 60% da energia elétrica fornecida na Dinamarca já é de origem eólica. Mas a meta é chegar a uma redução de 70% do uso de combustíveis fósseis até 2030 e zerá-la completamente até 2050.

Em sua fala, Frederiksen destacou ainda a importância econômica de renovação da matriz energética do país, dizendo que será capaz de gerar milhares de novos “postos de trabalho verde”, “no campo, na indústria, nos serviços, nas tecnologia”. “Ninguém será deixado para trás”, afirmou.

Emirados Árabes e EUA lançam grupo para acelerar tecnologias para uma agricultura mais limpa
O xeque Mohammed Bin Rashid al-Maktoum, dos Emirados Árabes, ressaltou o compromisso para transformar a sétima maior produtora de petróleo do planeta em uma energia mais limpa. Há 15 anos, ele disse, o país tomou a decisão estratégica de investir em fontes renováveis de energia e tecnologias limpas. Hoje, o reino opera duas das maiores plantas de energia solar do planeta, e se comprometeram a criar uma terceira, que será a maior planta de energia solar independente do mundo. Ressaltando investimentos e empréstimos para que nações em desenvolvimento, disse que as formas de energia limpa representam "o melhor futuro para a Humanidade"

 

Bin Rashid disse ainda que o país é líder regional no desenvolvimento de tecnologias para a captura e armazenamento de carbono, pioneiro na tecnologia no Oriente Médio. Ele anunciou também que os Emirados se juntarão à Missão de Inovação da Agricultura para Iniciativas Climáticas, uma iniciativa recém-apresentada desenvolver pesquisas e tecnologias para tornar o setor mais verde. Os EUA também são membros fundadores, disse a secretária de Energia, Jennifer Granholm.

John Kerry abre sessão
O primeiro debate da manhã, sobre inovações tecnológicas para conter a emergência global, foi aberta pelo enviado especial de Biden para o clima, John Kerry. Ressaltando os debates de sexta, o ex-secretário de Estado destacou que, às margens do evento, discutiu com representantes de 63 países de todos os cantos do planeta, entre elas nações ricas e poluidores, e algumas das mais pobres e vulneráveis às mudanças climáticas — apesar de contribuírem pouco para o aquecimento global.

Kerry disse que muitos países anunciaram metas mais ambiciosas em comparação às firmadas em 2015, no âmbito do Acordo de Paris — entre os dez maiores poluidores, no entanto, apenas quatro o fizeram. Seis, no entanto, entre eles o Brasil, anunciaram seus planos de compensar as emissões de carbono até 2050. A neutralidade do carbono é fundamental para que se limite o aquecimento global a 1,5oC em comparação com os níveis pré-industriais. Como o enviado climático descreveu, o planeta já está em 1,2oC.

 

— Nós ainda não nos comportamos como se isso fosse uma emergência global — afirmou Kerry, demandando compromissos mais ambiciosos até a COP-26, que acontecerá em novembro, na cidade de Glasgow, na Escócia.

Já o bilionário Mike Bloomberg, ex-presidenciável e enviado especial da ONU para Ambições e soluções climáticas ressaltou os esforços de sua empresa em direção a uma economia verde e em incentivar o setor financeiro a investir em companhias na vanguarda da inovação climática, zerar o saldo das emissões de carbono e cessar o uso do carvão como energia, o combustível fóssil mais poluente.

— Desenvolvimento sustentável, democracia e país são indivisíveis — disse em seguida Peggy Shepard, do Conselho da Casa Branca para a Justiça Ambiental, defendendo a necessidade de pôr os compromissos em prática, ao invés de mantê-los somente no plano teórico.