O Globo, n. 32037, 24/04/2021, Economia, p. 18

 

Especialistas temem que Censo em 2022 também seja cancelado
Fernanda Trisotto
Bruno Rosa
24/04/2021

 

 

 

O Ministério da Economia confirmou o cancelamento do Censo de 2021 por falta de dinheiro. A pesquisa é o mais completo levantamento do IBGE sobre a população e é usada para formular políticas públicas em saúde, emprego, educação, entre outras áreas, além de servir de referência para o governo distribuir recursos a estados e municípios. Especialistas afirmam que há risco de a pesquisa não sair do papel em 2022, ano de eleição. — Não há previsão orçamentária para o Censo, portanto ele não se realizará em 2021. As razões do adiamento foram colocadas no momento em que o Censo não teve o recurso alocado no processo orçamentário — afirmou o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues. A verba para o Censo foi reduzida várias vezes no governo de Jair Bolsonaro. Inicialmente

Eram R$ 3,1 bilhões, depois o valor foi revisto para R$ 2,3 bilhões. Na crise do Orçamento, os recursos para a pesquisa encolheram de R$ 2 bilhões para R$ 71 milhões. Com os vetos aplicados pelo presidente ao sancionar o texto na quinta-feira, restaram apenas R$ 53,5 milhões. O montante é insuficiente para executar o levantamento. Antes mesmo da nova redução de verba, o IBGE já havia cancelado o concurso para contratação de 200 mil recenseadores e agentes que trabalhariam na pesquisa.

Em nota, o IBGE disse que retomará as tratativas com o Ministério da Economia para planejar e promover a realização do Censo em 2022, de acordo com cronograma a ser definido em conjunto com a pasta.

Para ex-presidentes do IBGE, sem o Censo o país pode não ter as informações necessárias para fazer uma política fiscal adequada, ao alocar volumes de recursos para estados e municípios com base em dados defasados. Simon Schwartzman, que esteve à frente do instituto entre 1994 e 1998, destacou que o número da população é essencial para definir o total de deputados de cada estado e o volume de recursos federais destinados Brasil afora, por meio dos fundos de participação de municípios e estados: — O IBGE faz projeções anuais da população para definir o volume de recursos dos fundos a serem destinados a cidades e estados, mas quanto mais você se afasta de 2010,

Mais imprecisa fica essa projeção. Em 2022, teremos eleição, e a situação financeira do país é grave. Corremos o risco de não ter Censo em 2022. Para Sérgio Besserman Vianna, que comandou o IBGE entre 1999 e 2003, o Brasil terá mais perdas sem o Censo: —Comosaberototaldepessoas de um local e distribuir a quantidade certa de vacinas? Ou como melhorar o transporte público sem saber se as pessoas moram ali? O governo pode acabar gastando errado. Falta Censo e bom senso.