O Globo, n. 32037, 24/04/2021, Economia, p. 17

 

Marinho fica com 40% do valor que tinha em 2020
Manoel Ventura
Geralda Doca
24/04/2021

 

 

 

Ministério mais beneficiado pelo aumento das emendas parlamentares durante a votação do Orçamento deste ano, a pasta do Desenvolvimento Regional (MDR), comandada por Rogério Marinho, foi também a que mais perdeu recursos com os vetos e bloqueios feitos pelo presidente Jair Bolsonaro. Os recursos para o órgão foram reduzidos em R$ 9,47 bilhões, segundo dados compilados pela Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado. O ajuste causou insatisfação n aal apolítica do governo e deve elevar apressão sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, para que sua pasta seja desmembrada. Com o corte, o MDR ficará com previsão orçamentária de R$ 14 bilhões em 2021, dos quais cerca de R$ 7,5 bilhões são recursos que podem ser livremente manejados, segundo estimativa da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados (Conof). O valor representa aproximadamente 40% do desembolsado no ano passado pelo órgão, responsávelpor ações como obras de segurança hídrica e pelo novo Minha Casa Minha Vida.

'GESTÃO NO FIO DA NAVALHA'

A reversão dos ganhos obtidos pelo ministério durante a tramitação no Congresso foi mais um capítulo da disputa entre Guedes e Marinho. O titular da Economia atribui ao colega apressão por gasto se, ao convencer Bolso na roa vetar, fez sua defesa por ajuste prevalecer. A interlocutores, o ministro tem adotado tom conciliador ao dizer que não há ganhadores ou perdedores no episódio, mas uma equipe aprendendo a jogar junto. A avaliação não é compartilhada pela ala política, crítica aos cortes de despesas para obras em ano pré-eleitoral. Isso porque não foi só o MDR o alvo dos cortes. O Ministério da Infraestrutura, outra vitrine de obras públicas, teve uma redução de R$ 3,5 bilhões na previsão orçamentária, a maior parte voltada para a recuperação de aeroportos regionais, além de manutenção e duplicação de rodovias federais. Até mesmo o custeio da máquina pode sofrer, já que haverá menos recursos livres. —Vai ser uma gestão no fio da navalha —resumiu o diretor executivo da IFI, Felipe Salto, ao Jornal Nacional. Diante da redução de recursos para obras, uma alta fonte chegou a dizer, em tom irônico, que Guedes parece esperar que Bolsonaro ganhe as eleições de 2022 graças à aprovação da autonomia do Banco Central. A medida, assim como a maior parte da agenda de reformas defendida pela equipe econômica, é considerada de baixo impacto sobre a popularidade do presidente. Segundo fontes do alto escalão, o ministro da Economia sai da crise desgastado pela pressão por mais gastos que o espera à frente e pela avaliação dos colegas de que conduziu mal as negociações do Orçamento. Uma fonte chegou a afirmar que Guedes criou uma espécie de "governo paralelo" ao inviabilizar decisões do Executivo.