O Globo, n. 32036, 23/04/2021, País, p. 6

 

PDT contrata ex-marqueteiro de Lula e Dilma
Marlen Couto
Sérgio Roxo
23/04/2021

 

 

 

Personagem central nas investigações da Operação Lava-Jato, o marqueteiro João Santana voltou ao cenário político e eleitoral nacional. Conhecido por comandar as bem-sucedidas campanhas dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Santana passará a atuar na comunicação do PDT, partido de Ciro Gomes, que pretende concorrer ao Palácio do Planalto em 2022.

A informação foi divulgada ontem pelo próprio Ciro em suas redes sociais. O exministro compartilhou uma foto ao lado de Santana e do presidente do PDT, Carlos Lupi, após o trio participar de uma reunião.

O acerto que selou a volta de Santana à política foi fechado na viagem de Ciro e Lupi à Bahia. Na conversa, ficou definido que o marqueteiro receberá R$ 250 mil por mês em um contrato de um ano com o partido. As partes já vinham negociando a aproximação desde o ano passado, segundo Lupi.

Se tudo der certo, após 12 meses, Santana deve assumir o comando da comunicação da campanha presidencial de Ciro.

—(O acerto atual) é uma preliminar. Tenho esperança que ele aceite participar da campanha — afirmou Lupi ao GLOBO.

Além da comunicação de Ciro, Santana vai cuidar da imagem do partido e da campanha dos candidatos a governador que o partido pretende lançar em 2022.

— A gente ganhou o passe de um gênio — comemorou o presidente do PDT.

Depois de ser preso em 2016, Santana foi condenado, um ano depois, pelo então juiz Sergio Moro a oito anos e quatro meses de prisão por crime de lavagem de dinheiro. Também em 2017, Santana teve a sua delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmou que tinha uma conta não declarada na Suíça, onde recebia pagamentos de campanhas realizadas por sua empresa por meio de caixa dois.

Além de trabalhar com Lula e Dima, a agência de Santana atuou, entre 2003 e 2014, em outros países, como Argentina, República Dominicana, El Salvador, Panamá, Angola e Venezuela.

Santana cumpriu prisão domiciliar até outubro de 2020. Até essa data, ele também estava proibido pela Justiça de trabalhar com marketing político. Desde então, o marqueteiro não tinha assumido um trabalho de alcance nacional. Sem poder trabalhar com política, ele participou, como backing vocal, da gravação de um disco de uma banda formada por dois amigos. Santana também assinou composições do álbum.

Agora, o marqueteiro cumpre pena em regime aberto e ao menos até o fim do ano passado usava tornozeleira eletrônica. No último dia 15, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin determinou a restituição de um celular e dois notebooks que ainda estavam sob custódia da Polícia Federal.

ATRITOS COM MARINA SILVA

Em sua última aparição pública, uma entrevista ao programa Roda Viva em outubro do ano passado, Santana sugeriu uma chapa com Ciro e Lula, na qual o petista seria vice, para vencer o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

—Essa chapa seria imbatível, mas os egos, os venenos... É impossível acontecer. É imitar a solução eleitoral genial que a Cristina (Kirchner) fez na Argentina —disse Santana, na ocasião.

A ex-presidente argentina aceitou ser vice de Alberto Fernández nas eleições de 2019. O mesmo exemplo foi citado por Ciro no último dia 6, quando disse que Lula deveria “dar um passo atrás” e se inspirar em Cristina.

A contratação de Santana pelo PDT pode afastar a exministra Marina Silva (Rede) de uma possível aliança. Na campanha de 2014, o marqueteiro foi responsável por peças publicitárias com ataques contra a ex-ministra.