O Globo, n. 32035, 22/04/2021, País, p. 8

 

PF intima Boulos a depor sobre crítica a Bolsonaro 

22/04/2021

 

 

A Polícia Federal (PF) intimou o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL), a prestar depoimento como parte de um inquérito que investiga uma publicação feita por ele em uma rede social, em abril do ano passado, com uma crítica direcionada ao presidente Jair Bolsonaro.

A investigação foi aberta com base na Lei de Segurança Nacional. O depoimento de Boulos foi marcado para 29 de abril na sede da Polícia Federal em São Paulo.

Em nota divulgada ontem, Boulos disse que a Lei de Segurança Nacional é um resquício da ditadura — ela está em vigor desde 1983 — e tem sido usada para calar opositores e aqueles que denunciam “ações imorais e ilegais” do governo Bolsonaro.

“Seguirei cada vez mais determinado na oposição a Bolsonaro, fazendo todas as críticas a ele e a seu governo de forma pública e direta. Não vamos aceitar intimidações”, declarou Boulos.

O comentário do líder sem teto nas redes sociais foi feito em 20 de abril, um dia após Bolsonaro participar de um protesto que pedia o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) — a Corte tem um inquérito aberto para apurar quem financiou e organizou esses atos antidemocráticos.

Na ocasião, Bolsonaro disse “eu sou a Constituição”, declaração que remete à frase atribuída ao rei Luís XIV, que governou a França no século XVII e disse “O Estado sou eu”. Boulos, então escreveu no Twitter: “Um lembrete para Bolsonaro: a dinastia de Luís XIV terminou na guilhotina”.

OUTRAS INVESTIGAÇÕES

O caso foi levado pelo deputado José Medeiros (Podemos-MT) ao Ministério da Justiça, então chefiado por André Mendonça, que ordenou a abertura de inquérito na PF.

Boulos concorreu à Presidência da República em 2018 e à prefeitura de São Paulo no ano passado. Ele não é o primeiro político a ser investigado por criticar o presidente.

O ex-ministro Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência em 2018, foi notificado, no mês passado, pela PF por suposto crime contra a honra de Bolsonaro. O inquérito também foi pedido por Mendonça enquanto era ministro. Na notificação, é citada uma entrevista de Ciro, em novembro do ano passado, à Rádio Tupinambá, de Sobral, reduto político da sua família. Na entrevista, Ciro chamou Bolsonaro de “ladrão”. Também disse que o povo demonstra “repúdio ao bolsonarismo, à sua boçalidade, à sua incapacidade de administrar a economia e seu desrespeito à saúde pública”.

Anteontem, a Câmara dos Deputados aprovou urgência na análise de um projeto que revoga a Lei de Segurança Nacional e discute um projeto para substituir o texto atual.