O Globo, n. 32035, 22/04/2021, País, p. 6

 

Ministro bate-boca com Anitta e recebe apoio de colegas
Filipe Vidon
Camila Zarur
Dimitrius Dantas
22/04/2021

 

 

 

Alvo de um “tuitaço” promovido ontem por ONGs, políticos e artistas ligados à causa ambiental, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, passou o dia rebatendo e ironizando seus críticos nas redes sociais. Entre eles, estava a cantora Anitta, com quem Salles travou uma discussão pública no Twitter. O motivo foi a adesão da artista ao movimento de publicação em massa de mensagens contra a permanência dele na pasta.

Ao participar do protesto, Anitta publicou uma foto do ministro com a hashtag #ForaSalles ao fundo e afirmou que o ministro é “um desserviço para o meio ambiente”.

Na resposta ao comentário, Salles escreveu: “Fica na sua ai, ô Teletubbie”. A ofensa foi uma referência a um programa infantil inglês produzido entre 1997 e 2001.

Anitta respondeu a provocação e questionou a maturidade de Salles. Na esteira da troca de alfinetadas, a cantora chegou a ironizar a rapidez do ministro nas respostas do diálogo: “Não consigo te responder em 5 minutos como você me responde porque eu trabalho”. Ela disse ainda que o Brasil está “puxado” sob o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Salles, em tréplica, desafiou Anitta a citar capitais do Brasil ou o nome dos seis biomas brasileiros. Ela, por sua vez, quis saber se ele conhecia o habitat natural do mico-leão-dourado.

DESGASTES EM SÉRIE

A crise na internet é mais um capítulo do desgaste sofrido por Salles desde a semana passada, quando ele entrou na mira do Supremo Tribunal Federal (STF), após uma notícia-crime apresentada pela Polícia Federal (PF) do Amazonas indicar que ele poderia ter agido para atrapalhar uma investigação sobre madeireiras ilegais no estado.

Além de Anitta, também fizeram parte da mobilização os cantores Gilberto Gil, Caetano Veloso e Daniela Mercury, o youtuber

Felipe Net o e o apresentador Fábio Porchat. Houve repercussão internacional por meio da participação do ator americano Mark Ruffalo, que publicou a hashtag do protesto em português.

Na política brasileira, o pedido para que Salles deixe a pasta ecoou digitalmente entre deputados e senadores, principalmente os filiados a partidos de esquerda. Houve publicações também de Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL), que foram candidatos à Presidência em 2018, ano em que Bolsonaro se elegeu.

Nas trincheiras governistas, o ministro do Meio Ambiente encontrou apoio por meio das hashtags #FicaSalles e #RicardoSallesFica, que ganharam o apoio dos deputados federais Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, ambos do PSL de São Paulo, e de outros políticos bolsonaristas. Os ministros da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, e do Turismo, Gilson Machado, também publicaram em apoio ao colega de Esplanada dos Ministérios.

ALMOÇO COM O PRESIDENTE

Durante a tarde, Salles e outros membros do primeiro escalão do governo se reuniram junto a Bolsonaro para um almoço na casa do ministro das Comunicações, Fábio Faria. Uma foto do encontro foi compartilhada na internet por Faria em apoio a Salles e replicada por membros da gestão.

Integrantes das ala mais radical do bolsonarismo na web, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, fez coro à defesa de Salles: “Se a esquerda está contra alguém, é sinal de que essa pessoa faz um trabalho importante para o Brasil”.