O Globo, n. 32035, 22/04/2021, País, p. 4

 

Entrevista - Flávio Bolsonaro: “o governo perdeu o timing nas indicações para a comissão”
Flávio Bolsonaro
Paulo Cappelli
22/04/2021

 

 

 

O senador Flávio Bolsonaro (RepublicanosRJ) avalia que o governo “perdeu o timing” para indicar membros da CPI da Covid no Senado. Em entrevista ao GLOBO, o parlamentar afirmou que faltou articulação para que fossem escolhidos nomes “mais isentos”, mas disse que o Palácio do Planalto ainda tem esperança de “virar o jogo”, seja por decisão judicial ou pela desistência de nomes já indicados.

Uma das principais críticas à gestão do governo federal na pandemia é o fato de, no início, ter recusado a oferta para comprar vacinas.

Somos hoje o quinto país que mais vacina, atrás apenas dos que produzem vacina e que, por isso, destinam primeiro suas doses à própria população. Em setembro do ano passado, o governo fez um contrato de R$ 100 milhões de encomenda tecnológica com a AstraZeneca, que tem os direitos de produção e comercialização da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford. Não dá para culpar o governo. A vacina não chega na prateleira e vai para casa. Está o planeta inteiro disputando o produto.

Justamente por isso, o presidente não deveria ter comprado vacinas assim que elas foram oferecidas?

Na ocasião, era um dilema. Tinha que botar dinheiro na frente e não havia sequer comprovação da Anvisa e nem responsabilização pela vacina. O presidente Bolsonaro foi até onde pôde, mas a verdade é que, até hoje, não sabemos os efeitos colaterais. Só vamos saber com o tempo. Essa decisão lá atrás não foi tomada com dolo ou por incapacidade, mas com preocupação com a saúde das pessoas.

Essa questão deverá ser abordada na CPI da Covid. A composição não se mostra favorável ao governo. Prevê muitas dificuldades?

Acredito que o governo perdeu o timing para fazer as indicações de membros para a CPI. Faltou presença nossa na articulação para que fossem escolhidos nomes mais isentos. Tem muita gente contra o governo. A própria entrevista que Renan (Calheiros) deu, antes mesmo de assumir a relatoria, reforça isso. Mas ainda podemos tentar virar o jogo.

De que forma?

Eu mesmo não batalhei para integrar a CPI, porque sou filho do presidente e, óbvio, não teria posição isenta na comissão. É claro que eu iria querer defender o governo. Da mesma forma, Renan e Jader (Barbalho) vão olhar para os estados deles e, caso haja suspeita de irregularidades, como atuariam? Tanto o filho do Renan quanto o do Jader são governadores (de Alagoas e Pará). Isso levanta suspeição, já que a CPI investigará repasse de verba federal a estados e municípios. Avalio que não seria de bom tom a CPI ter a minha presença nem a do Jader e a do Renan.

Na prática, quais são as cartas para tentar mudar a composição da CPI?

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) entrou com uma ação pedindo a suspeição, e acho que pode haver uma decisão judicial favorável. Outra possibilidade é algum membro desistir voluntariamente de compor a CPI.

O governo está trabalhando para que algum membro desista e seja substituído por um nome mais alinhado com o Planalto?

Não. Isso teria que partir voluntariamente da pessoa. Não dá para contarmos com isso. A possibilidade na qual mais acredito é a via judicial.

A filiação ao PSL era a principal aposta para 2022, mas praticamente foi sepultada essa semana pelo presidente do partido, Luciano Bivar. Como fica agora a questão partidária do presidente Jair Bolsonaro?

A tendência é ir para um partido menor. Temos conversado com o Patriota, por meio do Adilson Barroso; com o PMB, por meio do filho da Sued Haidar (presidente do partido); e com o DC, do Eymael. Mas, independentemente de o presidente não se filiar ao PP nem ao PSL, selamos na terça-feira um compromisso de que tanto PP quanto PSL estarão na coligação do Bolsonaro em 2022.