O Globo, n. 32034, 21/04/2021, País, p. 6

 

Youtube remove vídeo em que Bolsonaro defende remédios sem eficácia comprovada
Marlen Couto
21/04/2021

 

 

 

O YouTube removeu pela primeira vez, na última segunda-feira, um vídeo do canal do presidente Jair Bolsonaro na plataforma por violar as regras ao difundir informação incorreta sobre a Covid-19. Trata-se de uma das lives semanais do presidente transmitida em 14 de janeiro, período em que Manaus vivia um colapso do sistema de saúde pelo aumento de casos da doença.

No vídeo, Bolsonaro aparece ao lado do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e mais uma vez defende a existência de um “tratamento precoce contra a Covid-19”, apesar de autoridades de saúde e especialistas afirmarem o contrário. Em um determinado momento, o presidente afirma que o uso de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e zinco “deu certo” para reduzir mortes. Os remédios não têm eficácia contra a doença ou estudos que comprovem que funcionam no tratamento.

O presidente também questionou o uso da máscara e medidas de isolamento social. Ambos são recomendados por especialistas para evitar a disseminação do vírus. O vídeo segue no ar em outras plataformas, como o Facebook.

A remoção da postagem de Bolsonaro foi revelada pela empresa Novelo Data, que monitora a plataforma. O YouTube informou, em nota, que expandiu suas políticas de desinformação médica sobre a Covid-19 e que passará a remover vídeos que “recomendam o uso de ivermectina ou hidroxicloroquina para o tratamento ou prevenção da Covid-19, fora dos ensaios clínicos, ou que afirmam que essas substâncias são eficazes e seguras no tratamento ou prevenção da doença”. Ainda segundo a plataforma, desde o início da pandemia, o YouTube já removeu mais de 850 mil vídeos por violarem políticas de conteúdo sobre o novo coronavírus.

Antes da expansão de suas políticas, porém, o YouTube já incluía em suas diretrizes não ser permitido “o envio de conteúdo que dissemine informações médicas incorretas que contrariem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou das autoridades locais de saúde” em temas como tratamento, prevenção, diagnóstico e transmissão do vírus, bem como sobre as diretrizes de distanciamento social e autoisolamento e relacionados à existência da Covid-19. Apesar disso, vídeos que pregam tratamento precoce sem eficácia, desestimulam o uso de máscaras e lançam suspeitas sobre as vacinas continuaram no ar na plataforma.

Não é a primeira vez que Bolsonaro é alvo de remoções de conteúdo de redes sociais. Em março do ano passado, Twitter, Facebook e Instagram retiraram do ar postagens do presidente com vídeos que registravam visitas a cidades satélites de Brasília e nas quais criticava medidas de isolamento social. Publicações do presidente com informações falsas sobre a pandemia também já receberam avisos e alertas de conteúdo com desinformação.