O Globo, n. 32033, 20/04/2021, País, p. 11

 

Leonardo Picciani e Júlio Lopes se aproximam de volta à Câmara
Bernardo Mello
Marcelo Remigio
20/04/2021

 

 

 

Ex-deputados do Rio que não conseguiram se reeleger em 2018 em meio à avalanche da Operação Lava-Jato, Leonardo Picciani (MDB) e Júlio Lopes (PP) podem assumir cadeiras na Câmara ainda neste mês, em um cenário que envolve alianças locais e uma decisão tomada pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) ontem. Por unanimidade, o Órgão Especial do TJ cassou uma liminar que permitia ao deputado federal Juninho do Pneu (DEM-RJ) conciliar o mandato em Brasília com o cargo de vice-prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para o qual foi eleito no ano passado. A decisão obrigará Juninho a optar por um dos mandatos, o que pode abrir brecha para que suplentes assumam um assento na bancada federal.

Em paralelo a questões jurídicas, a aproximação entre PP e MDB com o governador em exercício Cláudio Castro (PSC) também movimenta o xadrez político fluminense de forma favorável a Lopes e Picciani. Castro costurou um convite ao deputado federal Vinícius Farah (MDB-RJ) para integrar seu secretariado, numa reforma que deve abarcar mais de uma pasta. A ideia é que Farah assuma a futura secretaria estadual da Desburocratização, oque oficializaria a entrada do MDB no governo. Além disso, Cast rotem sido assedia doparas e filiara o PP, em conversas que vêm sendo alinhavadas pelo prefeito de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa. O governador também negocia um embarque no PSD, cujas articulações passam pelo presidente regional da legenda, deputado federal Hugo Leal.

Em 2018, Júlio Lopes ficou como segundo suplente da aliança formada por PP, DEM, MDB e PTB para as eleições proporcionais no Rio. Leonardo Picciani, que também tentava novo mandato na Câmara, ficou na quarta suplência. O primeiro suplente, Marcos Soares (DEM), já assumiu a cadeira vaga de Pedro Paulo (DEM), que tornou-se secretário de Fazenda do prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). A terceira suplente, Laura Carneiro(D EM ), também integra o secretariado de Paes e ainda se elegeu vereadora no ano passado, o que a obriga a renunciar à fila da Câmara. Com isso, Lopes e Picciani são os primeiros da fila atualmente.

No julgamento de ontem, os desembargadores do Órgão Especial derrubaram uma liminar do próprio TJ que havia permitido que Juninho do Pneu conservasse os cargos de deputado e de vice-prefeito. A ação originária proposta pelo PP, partido de Lopes, suspendera um decreto legislativo da Câmara dos Vereadores de Nova Iguaçu que concedia licença do cargo de vice-prefeito a Juninho até dezembro de 2022, “por motivo de força maior”. No plantão judiciário de janeiro, o então presidente do T J, Cláudio de Mello Tavares, retomou a valida dedo decreto, permitindo que Juninho seguisse em Brasílias em ter de renunciar à vice-prefeitura.

Já a decisão do Órgão Especial, ao cassara liminar, obriga o deputado afazer uma escolha. Procurado, Juninho do Pneu afirmou “que assim que for notificado pela Câmara Municipal de Nova Iguaçu irá optar por um dos dois cargos”, mas sem adiantara escolha.

— A decisão proferida pelo Órgão Especial corrigiu uma situação anômala —disse Bruno Calfat, advogado do PP.

Filiado ao PP, partido que propôs a ação, Lisboa recebeu apoio do MDB fluminense em sua campanha à reeleição em Nova Iguaçu, em 2020, graças à intervenção de Picciani. Presidente regional da sigla, ele barrou a candidatura do deputado estadual Max Lemos em Nova Iguaçu pelo MDB.

Aliados de Lisboa alimentam uma articulação para que ele concorra comovi cena chapa de Cláudio Castroà reeleição. Nos bastidores, o prefeito vem defendendo que Juninho opte pela vice-prefeitura. No entanto, a aliados próximos, o prefeito tem dito acreditar que o companheiro de chapa opte pela cadeira de deputado federal. Procurado, Lisboa não retornou. Citados em investigações da Lava-Jato do Rio, Lopes e Picciani, que negam acusações, não se manifestaram.