O Globo, n. 32033, 20/04/2021, País, p. 6

 

Nas redes, Renan em guerra com militância bolsonarista 
Amanda Almeida
Filipe Vidon
20/04/2021

 

 

 

Indicado pela maioria dos membros da CPI da Covid como o relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) virou alvo da mililtância digital bolsonarista nas redes sociais. O emedebista passou a usar um aplicativo que identificaria indícios de automatização em contas do Twitter —com base nisso, ele pediu à rede social, o bloqueio de cerca de três mil contas que lhe fizeram ataques, segundo informou o colunista Lauro Jardim.

Apenas no último domingo, segundo o senador, de mil menções a seu nome na relatoria, 67% foram feitas por robôs. Renan anunciou ontem, também no Twitter, que pretende fazer, até sexta-feira, uma “profilaxia digital”.

“Até a próxima sexta vou me dedicar a estudar temas da CPI e fazer uma profilaxia digital. Para evitar a infecção do radicalismo, o contágio dos extremistas e o ‘negaciovírus’, farei um isolamento sanitário, podendo voltar a qualquer momento se houver necessidade”, publicou o senador.

A campanha contra Renan Calheiros, divulgada com a hashtag #RenanSuspeito, entrou nos assuntos do momento no Twitter na manhã de domingo e ficou até ontem. Ela começou por aliados do presidente Jair Bolsonaro, como os deputados federais Alê Silva (PSL-MG), Carla Zambelli (PSL-SP) e Carlos Jordy (PSL-SP) e o exministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio. Segundo eles, o senador deveria ser considerado suspeito por ser pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).

O objetivo da Comissão Parlamentar de Inquérito é apurar possíveis omissões da União no enfrentamento da pandemia da Covid-19 e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio para os pacientes internados.

Aliada de Bolsonaro, Carla Zambelli anunciou nas redes sociais que ingressou com uma ação na Justiça Federal do Distrito Federal para impedir que Renan assuma a relatoria da CPI da Covid. Em uma postagem no Twitter, a deputada afirmou que a presença de alguém com processos e inquéritos na Justiça “fere o princípio da moralidade administrativa”.

Em vídeo postado no YouTube, a parlamentar bolsonarista disse que a CPI está “lotada de coisas estranhas e equivocadas”. Na publicação, ela também afirmou que haveria conflito de interesses entre membros da comissão e familiares que são governadores.

“Querem colocar o Renan Calheiros que é pai de um dos governadores investigados para ser o relator? Além disso, essa CPI tem algumas coisas estranhas como o Jader Barbalho que é pai de um governador que está sendo investigado, teve já algumas operações no estado do Pará, e é membro da comissão. Ele é suplente, mas participa. Tem membros que já são declaradamente pré-candidatos a governadores, também podem prejudicar os governadores porque têm interesse político nisso”, afirmou.

Na mesma publicação, Carla defendeu que Eduardo Girão (Podemos-CE) fosse o relator. Renan é um dos nomes mais temidos pelo Planalto ao posto.