O Globo, n. 32033, 20/04/2021, País, p. 6

 

CPI: convocação de Guedes vira 1ª divergência 
Julia Lindner
20/04/2021

 

 

 

A intenção de convocar o ministro da Economia, Paulo Guedes, a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid virou motivo de divergência entre o futuro presidente, Omar Aziz (PSD-AM), e integrantes do colegiado. A possível participação de Guedes consta na minuta do plano de trabalho do grupo independente, revelada pelo GLOBO. O texto deve ser finalizado até a instalação da CPI, marcada para a próxima semana, e depois aprovado pelos membros.

Para Aziz, a presença de Guedes vai “politizar” a discussão. O senador amazonense isenta o ministro de uma possível responsabilização na crise sanitária. Ele descarta que a falta de manutenção do auxílio emergencial possa ser apontada como motivo do aumento de casos da doença.

— O Guedes não é culpado nisso, não vejo o que ele poderia fazer. Não lembro de o ministro Guedes, quando foi solicitado pelo Ministério da Saúde ou por alguém, ter dito que não tinha dinheiro. Não vejo razão. Se alguém me apresentar um fato concreto eu concordo, mas esse fato aí (auxílio emergencial) não tem nada a ver. Não tem nenhuma relação — disse Aziz, ao GLOBO.

Mesmo diante da possibilidade de convocação de membros do alto escalão do governo na CPI da Covid — o plano em debate mira 15 autoridades —, o Palácio do Planalto ainda não procurou aliados para traçar a estratégia de atuação. A aposta é na pressão externa para tentar reverter o jogo nos cargos de comando. Bolsonaristas intensificaram um movimento nas redes sociais contra a escolha de Renan Calheiros (MDB-AL), crítico ao presidente, para a relatoria do colegiado.

INÍCIO ADIADO

A CPI tinha previsão de ser instalada na próxima quinta-feira, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), agendou para o dia 27, alegando questões de segurança. O gesto gerou desconfiança entre oposicionistas e independentes, que temem aumento da pressão contra Renan. Oposicionista, o senador Otto Alencar (PSD-BA), porém, descarta qualquer chance de o acordo ser desfeito.

— Não existe a mínima chance de o Renan deixar de ser o relator, até o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), o apoia. Isso é fofoca —avaliou

Alencar.

Bezerra articulou pela escolha de Omar Aziz para a presidência. Mas no final de semana, sinalizou aos senadores que o Planalto vai aceitar a indicação de Renan.

Mesmo diante da ofensiva da oposição, pelo menos cinco integrantes governistas do colegiado ouvidos pelo GLOBO, entre titulares e suplentes, afirmam que não foram procurados pelo Palácio do Planalto para tratar da atuação no colegiado.

— Eu é que estou ligando para os colegas, pedindo apoio, pedindo voto. Ninguém me procurou, estou fazendo um caminho quase que... puxando a corda, solitário — declarou o senador Eduardo Girão (PodemosCE), que lançou ontem candidatura avulsa à presidência do colegiado de forma independente.

ATRÁS DE ORIENTAÇÃO

Suplente da comissão, Marcos do Val (PodemosES) chegou a procurar um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para saber qual deve ser a atuação na comissão. Recebeu como resposta que o foco deve ser os repasses a governadores e prefeitos, mas sem especificar o que exatamente poderia ser feito.

Indicada recentemente para a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política, a ministra Flávia Arruda admitiu a aliados que o seu foco não está na CPI, e sim nas tratativas para resolver o impasse do Orçamento. Só depois ela pretende voltar as atenções ao colegiado.