O Estado de São Paulo, n. 46488, 27/01/2021. Metrópole, p A15.

 

SP prevê que os insumos para vacina chegam dia 3

João Ker

27/01/2021

 

 

Após a entrega, Butantan precisa de mais 20 dias para liberar doses para distribuição

O governador João Doria (PSDB) anunciou ontem a chegada de 5,4 mil litros de insumos para a Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Sinovac e produzida no País pelo Instituto Butantan. A previsão de entrega é na quarta-feira, 3, e equivale a 8,6 milhões de doses. Mais cedo, ele se reuniu virtualmente com Yang Wanming, embaixador da China no País, que participou da coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.

Dimas Covas, diretor do Butantan, afirmou que além dos 5,4 mil litros de insumos, outros 5,6 mil já estariam "em processo adiantado" de liberação. "Com esses dois lotes, regularizaremos as nossas entregas ao Ministério", afirmou, dizendo que entregaria 40 milhões de doses da Coronavac ao governo federal até abril, com possibilidade de fornecimento para outras 54 milhões de doses.

Segundo Covas, as doses já prontas começarão a ser liberadas para o Ministério da Saúde na próxima sexta-feira. Os 5,4 mil litros que chegarão na próxima semana serão liberados 20 dias após a entrega dos insumos. Com a entrega no dia 3, portanto, a distribuição desse terceiro lote ficaria para a última semana de fevereiro.

No sábado, a Fiocruz já havia admitido atraso na chegada de insumos para a produção da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica Astrazeneca. O órgão espera receber a matéria-prima "por volta do dia 8 de fevereiro". Além do tempo de produção do imunizante a partir do insumo farmacêutico, as doses fabricadas nacionalmente precisam passar por testes de qualidade que demorarão quase 20 dias. A entrega das doses ao Ministério da Saúde, conforme a Fiocruz disse ao Ministério Público Federal (MPF), está prevista só para março. Especialistas têm apontado o risco de que a restrição de doses afete a vacinação.

Protagonismo. Em seu pronunciamento, Wanming afirmou que a China mantém tradicionalmente relação amistosa com o Brasil e a liberação dos insumos demorou "por questões técnicas e não políticas". "Os avanços significativos da cooperação entre a Sinovac e o Instituto Butantan evidenciam a atitude científica e rigorosa dos pesquisadores de ambos os países", frisou, completando que a articulação entre os países "beneficia não só os paulistas, mas todo o povo brasileiro".

"Todo o relacionamento cultivado com a China, com a Sinovac e com o governo chinês, e as liberações foram conduzidos pelo governo do Estado de São Paulo e pelo Butantan. Nunca houve nenhuma relação, principalmente para ajudar, do governo federal", reforçou Doria, classificando como "desairosas" as manifestações do presidente Bolsonaro e de seus filhos em relação ao país asiático. Na segunda, ele e Bolsonaro (sem partido) se desentenderam sobre quem teria sido o responsável pela liberação dos insumos.

O governador ainda disse que até o momento não recebeu "um único centavo do Ministério da Saúde". "Imagino que vão cumprir o contrato e o compromisso e pagar por isso. Mas, até aqui, todo o investimento, desde maio, foi suportado pelo governo de São Paulo e pelo Butantan", frisou. Covas, por sua vez, acrescentou que o contrato entre o Estado e o governo federal foi firmado há apenas duas semanas.

Autossuficiência. Questionado sobre a autossuficiência do Brasil na produção da Coronavac, Doria anunciou que as obras na fábrica do Butantan começaram em 2 de novembro e a parte física deve estar pronta até o fim de setembro. Os equipamentos de produção devem ser instalados no mês seguinte. De acordo com Covas, a fábrica deve funcionar apenas no início de 2022.