O Estado de São Paulo, n. 46489, 28/01/2021. Política, p. A10

Mourão diz que Ernesto Araújo pode ser demitido
Anne Warth
28/01/2021



Vice fala em 'reorganização' do governo após eleições na Câmara e no Senado e afirma que 'talvez alguns ministros sejam trocados'

General. Mourão mencionou trocas no primeiro escalão do governo, mas disse que a decisão é da 'alçada' do presidente Jair Bolsonaro 

Isolado pelo governo das discussões sobre importação de vacinas contra a covid-19, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi incluído ontem pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, como um dos possíveis demitidos na reforma ministerial prevista para acontecer no mês que vem. Alinhado ao expresidente dos Estados Unidos Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden, o chanceler colecionou atritos com a diplomacia chinesa, de quem o Brasil depende para receber insumos para a fabricação de imunizantes.

"Julgo que, num futuro próximo, após a questão das eleições dos novos presidentes das duas casas do Congresso, poderá ocorrer uma reorganização do governo para que seja acomodada, vamos dizer assim, a nova composição política que emergir desse processo", afirmou Mourão, em entrevista à Rádio Bandeirantes. "Então, talvez, nisso aí, alguns ministros sejam trocados, entre eles o próprio MRE (ministro das Relações Exteriores)", completou. O vice, porém, disse não ter falado com Bolsonaro sobre o assunto e que não participará da decisão. "É algo que fica na alçada do presidente."

Trocas. As mudanças na Esplanada dos Ministérios têm sido negociadas pelo governo para tentar influenciar as disputas pelo comando da Câmara e do Senado. O movimento é considerado fundamental para o Palácio do Planalto impor sua agenda nos dois últimos anos de mandato.

Uma das alterações estudadas é transferir o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, para a Secretaria-geral da Presidência, abrindo espaço para que um nome do Centrão assuma a articulação política.

No caso de Ernesto, embora seja o responsável pela relação do Brasil com outros países, o ministro foi excluído das negociações para a compra de insumos após atritos com os chineses. O governo escalou outros ministros para negociar a importação dos produtos necessários para a fabricação de vacinas.

Na semana passada, numa tentativa de prestigiar o ministro, Bolsonaro levou Ernesto para participar de sua "live" e afirmou que não iria demiti-lo. "Quem demite ministro sou eu", disse ele, na ocasião, citando supostas pressões para a saída do chanceler.  

Itamaraty

"Após as eleições do Congresso, poderá ocorrer uma reorganização do governo. Então, talvez, nisso aí, alguns ministros sejam trocados, entre eles o próprio MRE (ministro das Relações Exteriores)."

Hamilton Mourão

VICE-PRESIDENTE