O Globo, n. 32021, 08/04/2021, País, p. 7

 

De olho em mais cargos, Centrão refaz lista de pedidos
Paulo Cappelli
08/04/2021

 

 

 

A troca em seis ministérios promovida pelo presidente Jair Bolsonaro atendeu parcialmente ao Centrão, mas está longe de colocar um ponto final nos pleitos do Congresso por pastas na Esplanada. Após as mudanças anunciadas pelo Planalto na semana passada, o Centrão apenas refeza sua lista de desejos. O Ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles, saiu do caderno de prioridades, ao passo que ganha corpo um movimento para pleitear odo Turismo, pasta que já foi cobiçada no passado, hoje a cargo de Gilson Machado. Os ministérios da Educação, comandado por

Milton Ribeiro, e de Minas e Energia, com Bento Albuquerque à frente, seguem no alvo, assim como desmembramentos nas pastas de Economia, de Paulo Guedes, e Infraestrutura, de Tarcísio de Freitas. A criação de um anova pastada Integração Nacional também faz parte das novas demandas do grupo.

A nomeação de Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo contemplou o PL, maior partido do Centrão na Câmara, e ajudou a frear as críticas públicas do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ao governo. Mas a nomeação é vista como insuficiente. A avaliação é que com a fragilidade na imagem do governo, o desgaste na popularidade do presidente e com deputados às vésperas de um ano eleitoral, Bolsonaro precisará ceder mais se quiser apoio político no Congresso e atrair partidos para a sua coligação em 2022.

TROCA NO TURISMO

Comisso, um núcleo do Centrão inicia um movimento para forçar a substituição no Turismo. A pasta é considerada atraente por sua capilaridade e pela possibilidade de levar  obras e agendas positivas às bases dos parlamentares. A pasta é cobiçada pelo próprio PP de Lira. Um parlamentar do Centrão com trânsito no Planalto afirma que o atual ministro, Gilson Machado, é uma indicação pessoal do presidente e que, diante do cenário atual, Bolsonaro terá que abrir mão de alguns cargos no primeiro escalão para manter apoio.

Na Educação,com um dos maiores orçamentos, a gestão de Milton Ribeiro é avaliada como “omissa” e “pouco produtiva” pela cúpula da Câmara. A deputada Luísa Canziani (PTB-PR) é apontada como o nome de Lira para substituir Ribeiro. Apesar de o PTB integrar a base de Bolsonaro, a sigla não tem representatividade quantitativa que lhe dê força para pleitear um ministério, o que torna o empenho de Lira fundamental.

Lira tem afirmado a aliados que vai buscar dar visibilidade à deputada com a escalação de Canziani para tocar as pautas da Câmara relacionadas à educação. Pesa contra a parlamentar, no entanto, a pouca idade. Ela completará 25 anos no próximo domingo.

Diferentemente de Salles, que contou com apoio da bancada ruralista para permanecer no Meio Ambiente, Milton Ribeiro não usufrui do amparo da bancada evangélica.

— O ministro da Educação foi uma indicação do André Mendonça (ministro da Advocacia-Geral da União). Milton Ribeiro não representa abancada evangélica e, inclusive, depois que assumiu, disse que não precisaria do nosso apoio. A igreja dele e do André Mendonça, queéa Presbiteriana, tem 1% do segmento evangélico no país e dois ministros na esplanada. Ressalto que é um critério do presidente fazer qualquer alteração nos ministérios —disse o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ. 

No Senado, parlamentares da base do governo pleiteiam o Ministério de Minas e Energia, comandado por Bento Albuquerque. Senadores argumentam que, historicamente, a pasta sempre foi comandada pela Casa eque, no governo Bolsonaro, ainda não fez indicação para ministérios.

Deputados e senadores contestam ainda o tamanho das superpastas de Economia, com Paulo Guedes, Infraestrutura, com Tarcísio de Frei tas, e Desenvolvimento Regional, com Rogério Marinho. O pleito é para que as pastas sejam desmembradas, o que permitiria mais ministérios para composição política.