O Globo, n. 32021, 08/04/2021, País, p. 6

 

Operação faz buscas contra servidor da Abin

08/04/2021

 

 

A Polícia Federal cumpriu na terça-feira mandados de busca e apreensão na residência e no local de trabalho de um servidor da Abin que, segundo a agência, falseou e vazou informações relativas à confecção de dois relatórios de inteligência para favorecer o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Uma das advogadas do próprio senador, porém, afirmou à revista Época, em dezembro, que o repasse das informações partiu da Abin.

O servidor prestou depoimento aos policiais, foi afastado da função e passou a responder a um processo administrativo disciplinar. Para a Abin, há “fortes indícios da participação de um servidor, que falseou a verdade e repassou informações à imprensa”.

A existência dos documentos, revelada pela revista Época, faria parte de uma estratégia da defesa do senador para anular investigações em curso contra ele. Em entrevista à publicação, a advogada Luciana Pires, que integra a defesa do senador, afirmou que partiu da Abin uma recomendação para que Flávio requisitasse à Receita Federal documentos que, supostamente, comprovariam que houve uma atuação ilegal do Fisco contra ele.

—Nenhuma orientação do (Alexandre) Ramagem (diretor-geral da Abin) o Flávio seguiu ou me pediu para seguir. Eu não tenho contato nenhum com o Ramagem. Ele ia ajudar em quê? Ele não tem a menor ideia do que está acontecendo lá dentro (da Receita), eu tenho mais informação do que ele. Ele sugeriu esse monte de ações que ninguém seguiu — afirmou a advogada à revista.

Perguntada se a Abin havia entregue mais do que dois relatórios, ela respondeu:

—Não, não passou para mim. Se produziu, Flávio não passou para mim. Se foi produzido além desses, ele não passou.”

O senador já foi denunciado pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) por organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita no caso das “rachadinhas”.

Em nota, a Abin informou que uma sindicância interna descartou a hipótese de que os relatórios tenham sido confeccionados. Segundo o texto, “nenhum servidor da agência produziu, teve acesso ou consultou informações relacionadas aos supostos relatórios”. A Abin disse ainda ter “registros de toda e qualquer atividade executada em suas redes” e afirmou que “toda a cadeia de produção de Inteligência foi auditada”.