O Estado de São Paulo, n. 46478, 17/01/2021. Metrópole, p. A14

Anvisa faz reunião para decidir sobre liberação de vacina
Mateus Vargas
Iander Porcella
João Prata
17/01/2021



Diretoria colegiada da agência analisa documentação entregue por Butantã e Fiocruz; São Paulo diz estar pronto para iniciar imunização

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reúne a sua diretoria colegiada hoje para decidir se permite ou não o uso emergencial da Coronavac e da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. Os imunizantes serão distribuídos no Brasil, respectivamente, pelo Instituto Butantã e pela Fiocruz.

A palavra da autoridade regulatória é o último passo para disponibilizar à população as vacinas que estão no País. A reunião começa às 10h e deve durar no máximo até as 15h. A diretoria colegiada da agência é formada por cinco membros, sendo um deles o presidente do órgão, o médico e contra-almirante Antonio Barra Torres. A decisão ocorre por maioria simples de votos.

A Anvisa informou ontem, que Fiocruz e Butantã terminaram a entrega de documentos sobre as vacinas. Uma equipe de cerca de 50 pessoas trabalha na análise dos dois processos. A relatora será a diretora Meiruze Freitas, farmacêutica e servidora da agência. Ela é responsável pela área que trata do registro de medicamentos e vacinas.

A reunião será transmitida pelos canais digitais da Anvisa e pela a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que administra a TV Brasil, além de rádios e outros canais do governo. As discussões públicas da agência sempre são transmitidas.

Butantã e Fiocruz serão notificados pela Anvisa sobre a decisão após a reunião. “Também será publicado no portal da agência um relatório com as bases técnicas da avaliação sobre a autorização temporária de uso emergencial, em caráter experimental, de cada vacina contra a covid-19”, diz a Anvisa.

Apenas farmacêuticas que realizaram estudos clínicos de fase 3 no País podem pedir o aval para aplicar a vacina neste formato, pelas regras atuais da agência. O uso emergencial pode ser feito mesmo com estudos de desenvolvimento do produto em andamento.

O Ministério da Saúde vem afirmando que, caso a Anvisa aprove o uso emergencial das vacinas hoje, a vacinação em todo o País começaria já na quarta-feira. O ministério, inclusive, planeja um evento, no Palácio do Planalto, em Brasília, para abrir oficialmente a campanha de vacinação.

Mas, a imunização contra a covid-19 pode começar ainda hoje em São Paulo, caso a Anvisa aprove o uso emergencial da Coronavac. Segundo apurou o Estadão, as primeiras doses podem ser aplicadas durante o pronunciamento do governador João Doria (PSDB), marcado para ocorrer no Hospital das Clínicas logo ao término da votação da Anvisa .

Profissionais da saúde de diferentes hospitais do Estado receberam convite para estarem na cerimônia e receberem as primeiras doses da Coronavac. Alguns médicos ouvidos pela reportagem afirmaram que ainda estão em dúvida em comparecer ao evento por considerar o ato político. O presidente Jair Bolsonaro e Doria são adversários e miram a eleição de 2022.

Ao Broadcast/Estadão, o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn afirmou ontem que a vacinação da covid-19 poderia começar oficialmente amanhã no Estado, mas ainda dependia das tratativas com o Ministério da Saúde sobre a quantidade de doses da Coronavac

São Paulo. Equipe de cerca de 50 profissionais da Anvisa trabalha na análise dos processos que ficarão no Estado. “Estamos prontos para começar a qualquer momento”, disse.

De acordo com Gorinchteyn, o cronograma de imunização em São Paulo, assim como o número de pessoas que serão vacinadas, só poderá ser definido quando a Secretaria de Saúde souber quantas doses receberá da vacina produzida pelo Instituto Butantã em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. “A gente depende dessas tratativas. Precisamos definir com eles o que eles vão fazer”, disse.

O secretário, porém, negou que haja um impasse com o governo de Jair Bolsonaro. “Estamos nos posicionando como sempre fizemos. Não existe nenhum desconforto ou falta de cordialidade entre as partes.”

O governo federal pediu ao Instituto Butantã na última sexta-feira a entrega imediata das 6 milhões de doses da vacina que já estão prontas. O Butantã, então, questionou a Saúde sobre o número de doses do imunizante que será destinado a São Paulo. Em ofício, o governo federal respondeu que tem a responsabilidade pela elaboração, atualização e coordenação do Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a covid-19.

“O Butantã não distribui nada, o que existe é uma alocação dessas vacinas para o Ministério. Porém, proporcionalmente, o instituto retém aquilo que é para São Paulo. Sempre foi assim. Não é novidade”, afirmou Gorinchteyn, que pediu “bom senso” nas tratativas.

De acordo com Gorinchteyn, não é “racional” enviar todas as doses da Coronavac para a Saúde: “Eu mando para a União. Ela desloca para outros lugares. Daí volta para São Paulo. Quer dizer, vamos pensar em análises de estratégias logísticas, de custos, e da demora frente à urgência pandêmica que se faz presente.”

Gorinchteyn afirmou também que anunciará nos próximos dias novas restrições para conter a pandemia no Estado. “Precisamos garantir a vida. Não podemos fazer de São Paulo o que temos visto no Amazonas.”

Imunização

6 milhões

de doses da Coronavac que já estão prontas foram pedidas pelo governo federal ao Butantã. O instituto, no entanto, quer saber o número de doses que ficarão no Estado de São Paulo.