O Globo, n. 32017, 04/04/2021, País, p. 12

 

Avesso às redes, Kalil lidera popularidade digital
Marlen Couto
04/04/2021

 

 

 

Importantes no tabuleiro político nacional, os prefeitos das capitais brasileiras têm tido desempenhos divergentes quando o assunto é impacto digital, passados três meses após a posse. E o resultado nada tem a ver com o tamanho da cidade que governam e com o tempo em que atuam na política. Levantamento da consultoria Quaest revela que é o prefeito de Belo Horizonte, sexta maior capital do país em número de habitantes, que lidera o ranking de mandatários municipais.

Ex-dirigente do mundo do futebol e no segundo mandato da carreira política, Alexandre Kalil (PSD) tem quase o dobro de popularidade nas redes que o o segundo colocado, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), que voltou a ocupar a prefeitura carioca depois de já ter assumido dois mandatos na cidade.

O índice calculado pela Quaest varia de 0 a 100 e considera dimensões como presença nas diferentes plataformas digitais, número de seguidores e compartilhamento de postagens. Considerando os 26 prefeitos das capitais, Kalil soma 81,29 pontos, enquanto Paes atinge 42,47. Já o tucano Bruno Covas (PSDB), que comanda a maior cidade do país, aparece apenas na sexta posição, atrás de prefeitos de cidades menores como São Luís e Florianópolis.

Assim como o presidente Jair Bolsonaro, Kalil tem adotado principalmente o Twitter, onde tem 1,2 milhão de seguidores, como ferramenta de comunicação. A situação da pandemia, com anúncios relacionados a vacinas e medidas de restrição de circulação, têm sido os únicos temas de que trata desde janeiro. Na postagem com maior engajamento no período, informou que a capital mineira oferecia vagas de UTI infantis para crianças de Manaus, que enfrentava naquele momento a falta de oxigênio.

— O erro é de quem não aborda só a pandemia. Não tem outro assunto no Brasil — diz Kalil, que atribui à “lei da oferta e da procura” sua popularidade digital e garante que escreve sozinho cada linha publicada. — Eu sou direto. Não acho que a rede social é uma brincadeira. Eu não sou arroz de festa na minha rede social, até porque prefeito não tem tempo de ficar tuitando.

Apesar de reconhecer que as redes são uma “ferramenta poderosa”, Kalil não costuma acompanhar o que acontece nas plataformas. Ele não segue ninguém no Twitter. O prefeito de 62 anos nunca usou nem mesmo o WhatsApp.

— Melhor jeito de conversar é assim (por telefone). Você ouve meu tom de voz, e eu o seu. Quando quero falar com meu filho, eu ligo — explica o prefeito, que também usa da estratégia para falar com seus subordinados.

Sócio da Quaest, o cientista político Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que Kalil já apostava na construção de uma rede virtual de relacionamento com torcedores, ao fazer anúncios pelo Twitter:

— Ele traz essa forma de comunicação dele do ambiente do futebol para a política. Ele publica pouco, trabalha com outra lógica, que é de se posicionar com o timing certo. Ele já saiu de Belo Horizonte, não fala apenas para a cidade, mas também para o interior. Agora tenta falar para além de Minas.