O Globo, n. 32017, 04/04/2021, País, p. 10

 

Expectativa na PF é de troca no comando da corporação
Leandro Prazeres
04/04/2021

 

 

BRASÍLIA - A troca no comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro, na semana passada, deixou membros da cúpula da Polícia Federal (PF) surpresos. A expectativa é que, com a chefada de Anderson Torres à pasta, haja mudança nos próximos meses na direção da corporação.

Atualmente, o diretor-geral da PF é o delegado Rolando Alexandre de Souza. Ele assumiu em maio de 2020 em meio à crise decorrente da exoneração do então diretor Maurício Valeixo. A demissão culminou na saída do então ministro da Justiça Sergio Moro, alegando que a troca na PF seria uma tentativa do presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente na corporação.

Nos bastidores, comenta-se que Torres e Rolando se dão bem e estreitaram relacionamento durante a passagem do hoje ministro pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Os dois, porém, não pertencem ao mesmo grupo na PF.

Os nomes cotados para assumir o posto são o do delegado Júlio Danilo, que assumiu a secretaria do DF após a saída de Torres; e o do superintendente da PF no Distrito Federal, Márcio Nunes de Oliveira.

 

Uma pessoa próxima a Torres disse ao GLOBO que, agora, o momento é de conhecer a estrutura do ministério e não de anunciar mudanças.

O atual diretor-geral da PF é considerado mais próximo ao diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. O diretor da Abin havia sido escolhido por Bolsonaro para comandar a PF, mas uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a nomeação. O ministro entendeu que a proximidade entre Ramagem e a família Bolsonaro poderia indicar um desvio de função.

A proximidade com a família Bolsonaro, no entanto, não é exclusividade de Ramagem. Anderson Torres também é considerado próximo dos filhos do presidente, especialmente do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos -RJ). Essa proximidade, no entanto, não chega a preocupar o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edivandir Paiva.

— Se essa suposta proximidade fosse a única credencial do ministro, isso seria preocupante, mas não é o caso. Anderson Torres é um delegado da PF experiente e que com bastante conhecimento do sistema de Justiça e de segurança pública. Caso haja mudanças na PF, o importante é que elas mantenham a autonomia necessária à corporação — disse Paiva.