O Globo, n. 32019, 06/04/2021, País, p. 7

 

Psol resiste a aliança eleitoral de Freixo com Maia e Paes
Bernardo Mello
06/04/2021

 

 

 

Em reunião marcada para a noite de hoje, o diretório estadual do PSOL no Rio deve se manifestar sobre a possibilidade de formar aliança em 2022 com nomes do centro, como o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEMRJ) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). A tendência, segundo fontes do partido, é de uma sinalização na contramão do acordo desenhado pelo deputado psolista Marcelo Freixo para concorrer ao governo do estado. Ontem, Freixo disse ao GLOBO que, além das conversas com siglas da esquerda, vem tratando da formação de uma frente antibolsonarista com Paes e Maia, antigos adversários do PSOL.

Internamente, membros do PSOL receberam de forma fria a articulação de Freixo e apontaram que o deputado ainda não tem maioria interna para uma aliança fora da esquerda. O deputado federal Glauber Braga (RJ), colega de Freixo na Câmara, criticou a hipótese de uma costura com Paes e Maia e lembrou que o PSOL se coloca até hoje como oposição a ambos na política fluminense. Sem citar o nome de Freixo, Braga disse que a aliança seria “totalmente descabida”.

—Uma tentativa como essa não encontra respaldo em nenhum campo que componha o PSOL de maneira minimamente sólida —afirmou.

Ao GLOBO, Freixo havia declarado ontem que está disposto a debater no partido a busca por apoios fora da esquerda. O diálogo poderia incluir também integrantes de siglas como PSDB e MDB que venham se colocando como oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Segundo Freixo, a formação de uma frente ampla, única condição em que toparia ser candidato ao governo, seria também um imperativo para “vencer o bolsonarismo, o que vai além dos limites de qualquer partido”.

O PSOL, que já chegou a proibir textualmente alianças com o centro, autorizou apenas em 2020 acordos com partidos de esquerda, como PT, PDT e PSB, sem necessidade do aval da direção nacional. Para integrantes do partido, há questões “inconciliáveis” com siglas como DEM e PSDB, especialmente na pauta econômica, o que causa rejeição na base partidária. Em resolução publicada no último mês, a direção nacional do PSOL defendeu, por ora, a “unidade das es- querdas” em 2022, sinalizando um possível apoio ao ex- presidente Lula (PT).

“DECISÃO COLETIVA”

Segundo o vereador Chico Alencar, o PSOL buscará uma decisão coletiva sobre alianças. Ele afirma que o “PSOL busca ser partido, e não ‘marca’ para trajetórias individuais”.

— Qualquer um de nós, parlamentares, tem todo o direito de apresentar suas visões, inclusive de política de alianças. O diretório se reunirá para avaliar cenários para 2022 e depois, numa reunião ampliada, Freixo poderá apresentar sua ideia de aproximação até eleitoral com a centro-direita, inédita no partido —afirmou.

Antecipando um possível impasse entre Freixo e PSOL, partidos da centro-esquerda têm sinalizado disposição em abrigar o deputado.

— Freixo e eu mantemos conversas no sentido de uma aliança ampla, que esbarra nos planos de muita gente no PSOL— afirmou o presidente do PDT, Carlos Lupi.