O Globo, n. 32019, 06/04/2021, País, p. 6

 

Presidente do MDB descarta apoio a Lula ou Bolsonaro
Paulo Cappelli
06/04/2021

 

 

 

Com políticos do MDB que defendem uma candidatura do próprio partido à Presidência, outros que sustentam o apoio a Lula, e ainda com parcela que tem preferência por Bolsonaro, a legenda inicia de forma mais incisiva, este mês, discussões para definir qual será aposição oficial da sigla na eleição do ano que vem. Presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP) afirmou ao GLOBO que, no momento, o apoio a Lula ou a Bolsonaro está descartado. Baleia afirma que o consenso é o lançamento de uma candidatura própria. E acredita que, caso um nome da legenda não venha a se mostrar competitivo, o melhor caminho seria abraçar uma candidatura de centro, como a do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) ou Luciano Huck (sem partido).

—Esses três nomes estão em pé de igualdade. E não temos discutido internamente o apoio a Lula ou Bolsonaro. Hoje, isso está descartado. A decisão interna é por uma terceira via—disse Baleia, ressaltando, contudo, que começará este mês a fazer consultas formais a deputados federais, senadores e presidentes estaduais do partido sobre 2022.

Em conversas com dirigentes do partido, Baleia tem dito que o MDB “seria prejudicado” se “caminhasse com algum dos extremos”. O presidente da sigla reconhece que há políticos influentes da legenda que defendem apoio a Lula, principalmente no Nordeste, e a Bolsonaro, especialmente no Sul, e sustenta que uma forma de unificar o partido seria lançar uma candidatura da própria legenda. Ele afirma já ter conversado com o ex-presidente Michel Temer sobre entrar na disputa, mas que isso foi descartado. E, nesse cenário, o nome ao qual se refere com mais entusiasmo é o da senadora Simone Tebet (MS), embora também cite os governadores Renan Filho, de Alagoas, e Ibaneis Rocha, do Distrito Federal.

— A Simone tem muito potencial para crescer. Foi a primeira mulher candidata à presidência do Senado e se saiu muito bem este ano —avalia.

Mas a defesa de uma candidatura própria tem dificuldades internas. O senador Renan Calheiros (MDBAL), por sua vez, afirma que o partido só poderia ir para esse rumo caso venha a se mostrar viável do ponto de vista eleitoral.

— Nós, do MDB, sonhamos há muitos anos em ter candidatura própria e competitiva à Presidência, porque isso ajuda a alavancar os palanques regionais. Mas lançar um nome sem competitividade, como na eleição passada (quando Henrique Meirelles foi candidato), não adianta — avaliou o senador, que defende o apoio a Lula.—Sinceramente, o apoio do MDB a uma dessas candidaturas alternativas de centro é um caminho difícil de acontecer.

Lula leva vantagem sobre Doria, Huck e Mandetta não apenas pela polarização com Bolsonaro ou pela probabilidade mais alta de ganhar. É pelo próprio perfil do Lula, que atrai o centro no qual o MDB está inserido. É uma tendência o meu apoio a ele caso o MDB não tenha candidato, mas ainda não está consumado.

No Sul, por sua vez, o partido é mais alinhado ao presidente. O deputado federal Osmar Terra (RS) chegou a ser ministro de Bolsonaro. Já no Senado, dois emedebistas são líderes do governo Bolsonaro: Eduardo Gomes (TO), que faz a interlocução do Planalto junto ao Congresso, e Fernando Bezerra (PE), que  lidera o governo junto ao Senado. Dirigentes do MDB, contudo, minimizam o fato, pois afirmam se tratar de relações pessoais de Bolsonaro com os parlamentares, não tendo o aval do partido. Caciques da legenda destacam que nem Gomes nem Bezerra comandam os diretórios de seus respectivos estados.