O Estado de São Paulo, n. 46474, 13/01/2021. Política, p. A8

Filhos de Edison Lobão são alvo de buscas da Lava Jato
Pepita Ortega
13/01/2021



79ª fase da operação apura pagamento de propinas em contratos de subsidiária da Petrobrás e lavagem de dinheiro

A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Receita Federal deflagraram ontem a 79.ª fase da Lava Jato, que investiga crimes de corrupção, fraudes licitatórias, organização criminosa e lavagem de dinheiro envolvendo contratos da Transpetro, subsidiária da Petrobrás. Dois filhos do ex-ministro de Minas e Energia e ex-senador Edison Lobão (MDB-MA) foram alvo de buscas.

De acordo com os investigadores, o grupo suspeito teria recebido propinas de mais de R$ 12 milhões por meio de contratos celebrados com a Transpetro e o dinheiro teria sido lavado por meio da aquisição de imóveis e obras de arte. Segundo o Ministério Público, os filhos de Lobão – Edison Filho e Márcio Lobão – são suspeitos de participação em dois esquemas de lavagem, um que focava no subfaturamento de obras de arte – relacionado a Márcio – e outro envolvendo transações imobiliárias em São Luís (MA).

A Procuradoria no Paraná afirmou que a operação de ontem é um desdobramento da investigação que mirou Lobão e que, agora, alcança os filhos do ex-ministro. Márcio, que foi preso em setembro de 2019, já é réu na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro.

Um dos objetivos da operação – as ordens foram expedidas pela juíza Gabriela Hadt, da 13.ª Vara Federal em Curitiba –, foi apreender mais de cem obras de arte ligadas a Márcio, além de bens como veículos e helicóptero. A existência de obras de arte foi revelada pelo Estadão em 2019. Na ocasião, Márcio e o pai foram denunciados na Lava Jato acusados de ocultar dinheiro de propina via compra de obras de arte.

A PF informou que, durante as investigações da Lava Jato, foi identificada uma organização criminosa voltada a fraudar licitações mediante o pagamento de propina a executivos da Petrobrás e da Transpetro. "Suspeita-se que os contratos celebrados pela Transpetro com algumas empresas teriam gerado, entre 2008 e 2014, o pagamento de mais de R$ 12 milhões em propinas pagos a este grupo criminoso", registrou a PF em nota. "No caso das obras de arte, tais operações consistiam na aquisição de peças de valor expressivo com a realização de pagamento de quantias 'por fora', de modo que não ficassem registrados os reais valores das obras negociadas. Neste caso, tanto o comprador quanto o vendedor emitiam notas fiscais e recibos, mas declaravam à Receita Federal valores flagrantemente menores do que aqueles efetivamente praticados nas transações", disse a PF.

A Transpetro afirmou que colabora com o Ministério Público Federal e reiterou que é "vítima e presta todo o apoio às investigações." As defesas de Edison Filho e de Márcio Lobão não responderam à reportagem até a conclusão desta edição.