O Estado de São Paulo, n. 46462, 01/01/2021. Economia & Negócios, p. B1

 

Com preços em alta, commodities vão alavancar receitas de exportações

Luciana Dyniewicz

01/01/2021

 

 

 Recorte capturado

 

Comércio. Previsão é que valores negociados pelo minério de ferro, soja e petróleo registrem alta de até 12,9% nos próximos 12 meses, amenizando crise econômica remanescente da pandemia; apesar disso, analistas não veem pressão extra sobre inflação no mercado interno

Impulsionadas principalmente pelo minério de ferro, as principais commodities produzidas no País devem alavancar as receitas brasileiras com exportações neste ano, amenizando a crise econômica remanescente da pandemia. Segundo estimativas da Tendências Consultoria, o minério, a soja e o petróleo devem registrar uma alta de 12,9% nos preços nos próximos 12 meses.

"Em 2021, devemos alcançar um nível de preços que não vimos nos últimos seis anos", diz a economista Yasmin Riveli, da Tendências. Segundo um índice de preços da consultoria que engloba as três principais commodities exportadas pelo Brasil, as cotações do minério de ferro, da soja e do petróleo estarão, neste ano, 33% acima do verificado em 2016 – o pior ano da década para as commodities e o segundo pior para a economia brasileira.

Na comparação com o super ciclo do segmento ocorrido entre 2010 a 2014, porém, os preços ainda estarão 34% abaixo dos registrados em 2011, o melhor ano do período.

Yasmin explica que a cotação do minério de ferro vem batendo máximas históricas, mas os preços do petróleo e da soja, apesar de estarem se recuperando, devem continuar em níveis inferiores aos observados no início da década passada. Essa combinação acabará inviabilizando um novo super ciclo de commodities, como alguns analistas vinham projetando para 2021.

O minério de ferro é a commodity cujo preço mais depende da economia chinesa, e a demanda no país está acelerada com a retomada da indústria. Durante o ano passado, o preço do produto subiu 94,7% (leia mais informações nesta página). Já o petróleo e a soja estão mais conectados com o restante do mundo, que ainda patina com a instabilidade econômica decorrente da pandemia. Ainda assim, problemas climáticos e a demanda da China – cujo governo estimulou o aumento de estoques de grãos, preocupado com uma possível falta de alimentos por conta da covid – fizeram com que o preço da soja subisse 35,6% em 2020.

Única commodity das mais importantes exportadas pelo Brasil a ter queda na cotação em 2021, o petróleo também está em situação que pode ser considerada positiva. O preço do barril caiu 22,5% no ano passado, mas teve uma recuperação de 163% desde que atingiu o fundo do poço, ao ser cotado a US$ 19,54 em abril, quando o mundo estava em lockdown.

Incertezas. A economista Lia Valls, do FGV Ibre, reconhece que a expectativa no mercado é que os preços continuem em patamares elevados no primeiro semestre deste ano, mas alerta que as incertezas também são altas. "Não é certo se haverá um novo ciclo. As pessoas estão vendo a economia começar a se recuperar, mas ninguém sabe quão forte será a segunda onda da pandemia."

Para Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco, há espaço "na margem" para novos aumentos. "Podemos continuar vendo preços mais altos, uma vez que tem o La Niña (fenômeno climático que reduz a produção agrícola) e os estoques (de grãos) caem. O minério também está bastante atrativo, mas é preciso observar se tem fôlego para andar mais do que já andou", afirma.

A economista diz também não esperar que a alta das commodities pressione ainda mais a inflação. "Há espaço para a inflação desacelerar, porque o choque vai se dissipando", acrescenta. 

Previsões

"Em 2021, as commodities devem alcançar um nível de preço que não vimos nos últimos seis anos."

Yasmin Riveli

ECONOMISTA DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA

"Há espaço para a inflação desacelerar, porque o choque vai se dissipando."

Júlia Passabom

ECONOMISTA DO ITAÚ UNIBANCO

"Não é certo se haverá um novo ciclo (de alta)."

Lia Valls

ECONOMISTA DO IBRE