O Globo, n. 32015, 02/04/2021, Mundo, p. 21

 

Bolívia fecha fronteira com o Brasil para frear Covid-19

02/04/2021

 

 

A Bolívia e o Chile foram, ontem, os mais recentes países da América do Sul a anunciarem a suspensão do trânsito de pessoas com o Brasil para conter o avanço da Covid-19. No caso chileno, que lida com um acentuado surto, as restrições valerão para todas as suas fronteiras terrestres e aéreas no mês de abril, enquanto, no boliviano, o bloqueio é exclusivo para a divisa com o Brasil e tem duração inicial de uma semana, a partir de hoje.

As medidas vêm após o alerta da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) sobre os riscos da crise sanitária no Brasil agravarem a situação em toda a região. Março foi o pior mês da pandemia no país, com mais de 66 mil mortes —mais que o dobro de julho de 2020, o mês mais letal até então.

Junto com o Paraguai, Chile e Bolívia eram, na prática, as únicas entre as maiores nações sul-americanas que ainda permitiam a ida e vinda de brasileiros, mesmo com restrições.

Segundo o presidente boliviano, Luis Arce, que anunciou o fechamento temporário da fronteira de 3,4 mil quilômetros pelo Twitter, a medidas e faz necessária para" protegera população ". Não está claro, no entanto, se as restrições também se aplicarão a viagens aéreas.

De acordo com Arce, comunidades fronteiriças em que "se verificou a circulação de variantes" oriundas do Brasil serão "encapsuladas" ou postas em quarentena. No início da semana, La Paz já havia ordenado o início das campanhas de vacinação em regiões fronteiriças com o Brasil, diante de temores das novas cepas.

Há uma preocupação especial com a variante amazônica, a P.1, mais contagiosa, que foi descoberta primeiramente em Manaus. Até o momento, ela já foi encontrada em ao menos 15 países e territórios das Américas, incluindo Bolívia, Venezuela, Chile, Uruguai, Colômbia e Paraguai.

Santiago, por sua vez, anunciou que, a partir de segunda, fechará por um mês todas as suas fronteiras "tanto para cidadãos chilenos quanto para estrangeiros", com exceção apenas para viagens humanitárias.

As fronteiras terrestres também serão bloqueadas, com a passagem permitida apenas para caminhoneiros que transportam produtos essenciais. Nestes casos, será necessário mostrar teste negativo feito até 72 horas antes.

Cidadãos brasileiros, até o momento, podiam desembarcar no país, mas com uma série de restrições: precisavam apresentar um teste PCR no embarque e, ao chegar em Santiago, eram levados a uma residência sanitária para realizar um novo exame, em uma tentativa de conter a disseminação de novas cepas. Além disso, precisavam também fazer uma quarentena de 10 dias.

— Precisamos com urgência fazer um esforço adicional diante do momento crítico da pandemia —afirmou o portavoz do governo, Jaime Bellolio, ao anunciar as medidas.

A Colômbia, no início de março, optou por adiar por tempo indeterminado a retomada dos voos para o Brasil. O Peru, por sua vez, anunciou que manterá suspensos, ao menos até o dia 15, os voos tendo o Brasil como origem ou destino. Já a Venezuela entrou na segunda-feira em um confinamento de 14 dias para impedir o avanço da P.1.

A Argentina e o Uruguai proíbem a entrada de estrangeiros como um todo e mantêm suas fronteiras terrestres fechadas. Buenos Aires, no entanto, permite voos reduzidos entre os dois países para cidadãos argentinos e residentes, enquanto Montevidéu permite unicamente viagens humanitárias desde meados de março.

A fronteira entre Brasil e Paraguai continua aberta, desde que os brasileiros apresentem um teste PCR negativo realizado até 72 horas antes.