Título: Ambientalista faz greve de fome
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 04/03/2005, Rio, p. A14

Funcionário do Ibama que seria o próximo da mesma lista de Dionísio Júlio protesta contra abandono do Tinguá

O ambientalista e funcionário do Ibama Márcio Castro das Mercês, ameaçado de morte por caçadores e palmiteiros, está em greve de fome para chamar a atenção das autoridades. Ontem ele anunciou a greve ao entrar em uma gaiola, de onde só pretende sair se houver sinal dos governos de que haverá obras e mais recursos para a região. O gesto encerrou a manifestação realizada ontem pela manhã na Praça do Tinguá, em Nova Iguaçu. Márcio protesta contra as condições em que vivem os moradores do local, segundo ele sem saneamento básico. Assim como Dionísio Julio Ribeiro Filho, assassinado em 22 de fevereiro, ele é marcado para morrer, mas diz que não se intimida.

- Abri mão da proteção policial para tentar ajudar esta comunidade. A reserva abastece mais de 4 milhões de pessoas na Baixada Fluminense e, aqui do lado, a população precisa buscar água no rio. Só saio quando começarem as obras para trazer água encanada - desafiou Márcio.

A cabana de sapê em que Márcio montou a gaiola tem apenas um colchonete e um agasalho.

O estudante Douglas Silva, 16 anos, morador da comunidade da Biquinha, costuma buscar água na reserva com os irmãos todos os dias.

- Temos que ir mais de três vezes por dia porque não é possível caminhar tanto carregando o peso das garrafas - reclamou o menino.

A Cedae informou que já existe um projeto para levar um rede de abastecimento ao local, mas os estudos aguardam viabilização.

O deputado estadual Carlos Minc (PV/RJ) pediu ajuda ao secretário estadual de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, para garantir a proteção de Márcio.

- Mesmo que ele não queira, vamos protegê-lo, sua vida vale muito para nós - disse o deputado.

O chefe de fiscalização da Reserva Biológica do Tinguá, Luiz Henrique dos Santos Teixeira, apoiou o gesto do ambientalista e se comprometeu a acompanhá-lo.

- Vou ficar numa casa próxima à cabana do Márcio, se ele precisar de alguma coisa. É uma atitude nobre e desesperada - disse Luiz Henrique.

O ato pacífico reuniu representantes do Ibama, da ONG Viva Rio, além de moradores e ativistas ambientais. O Ibama aderiu à campanha do desarmamento, entregando rifles, espingardas e trabucos apreendidos ao longo de dois anos para serem destruídos junto com as gaiolas recolhidas nas casas de caçadores.

No encontro, mais seis ONGs aderiram ao Conselho Consultivo da Reserva Biológica de Tinguá. O Conselho encaminhou dois documentos ao Congresso Nacional, um exigindo a CPI da Terra na região e outro com um pedido de proteção para 12 pessoas ameaçadas de morte no local. Outras 11 ONGs já faziam parte do conselho e ajudam na gestão da reserva.