O Globo, n. 32015, 02/04/2021, Sociedade, p. 11

 

Fiocruz repassou só 2,8 milhões de imunizantes no mês

Chico Otavio

02/04/2021

 

 

OInstituto de Biotecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), vinculado à Fiocruz, encerrou o mês de março entregando 2,8 milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford ao Programa Nacional de Imunização (PNI). Há três meses, quando divulgou o primeiro cronograma do acordo com a farmacêutica anglo-sueca, a Fiocruz mencionava a entrega de 15 milhões de doses em março.

Ontem, a Fiocruz informou em nota que, além das 2,8 milhões de unidades já despachadas, entregará hoje mais 1,3 milhão de doses do imunizante do PNI. O texto afirma, no entanto, que o cronograma “está sujeito à logística de distribuição definido pela pasta, além dos protocolos de controle de qualidade”.

O diretor de Bio-Manguinhos, Maurício Zuma, disse que o atraso do envio deste último lote se explica, em parte, pelo mau funcionamento de uma máquina recravadora. O aparelho ficou parado uma semana após apresentar falhas.

Calcanhar de Aquiles de Bio-Manguinhos no envase da vacina, a recravadora cumpre a função de selar com alumínio os frascos de vacina já fechados com uma rolha. Após essa etapa, os frascos seguem para rotulagem e embalagem.

Zuma explicou que a máquina “performou mal” ao selar o último dos três lotes de validação da vacina (destinados aos testes de controle de qualidade junto à Anvisa), descartando frascos que apresentavam boas condições.

Para sanar o problema, segundo Zuma, Bio-Manguinhos foi obrigado a comprar peças na Itália, país de origem da fabricante da máquina. Após o reparo, um técnico da empresa italiana e um especialista em controle de qualidade da Fiocruz passaram a acompanhar 24 horas por dia o desempenho da recravadora, afirmou Zuma, ao garantir que o processamento voltou ao ritmo esperado e que o lote selado com problemas — em torno de 450 mil doses — está separado para análise, mas não foi descartado.

CONTRATO BILIONÁRIO

Bio-Manguinhos assumiu o compromisso de fazer o processamento final da vacina, que compreende as operações de formulação, envase, recravação, rotulagem e embalagem. A operação, segundo a Transparência Brasil, envolve umcontratodeR$1,35bilhão, dos quais já foram pagos R$ 991 milhões à fabricante para fornecimento do IFA, matéria-prima da vacina.

Ao admitir os problemas de conversão de uma linha de produção da vacinas de febre amarela para a de Covid-19, Zuma diz que “questões técnicas precisam ser enfrentadas diariamente”.

No momento, segundo o diretor, Bio-Manguinhos conta com duas linhas de envase da vacina. A primeira, onde surgiu o problema técnico, trabalha em dois turnos. A segunda, que entrou em operação recentemente, funciona em um turno, ainda. Segundo ele, as duas juntas estão conseguindo produzir 900 mil doses por dia. Mas a produção, diz Zuma, não pode ser entregue imediatamente ao PNI, pois passa por análises de qualidade em período de três semanas antes de ser liberado.